Vício, Hábito, Compulsão, Adição
Decidi ver o que diz
o dicionário acerca destas palavras. (Definições retiradas do Dicionário
Priberam da Língua Portuguesa):
Vício:
1. Defeito ou
imperfeição.
2. Prática frequente
de ato considerado pecaminoso.
3. Tendência para
contrariar a moral estabelecida. = DEPRAVAÇÃO, LIBERTINAGEM
4. Hábito inveterado.
= MANIA
5. Dependência do
consumo de uma substância (ex.: vício do álcool).
Hábito:
Prática frequente. =
COSTUME
Compulsão:
1. Força (que
compele).
2. O ato de compelir.
Compulsivo:
1. Que compele ou é
destinado a compelir.
2. Que não se
consegue conter ou a que não se consegue resistir.
Adição:
[Medicina,
Psicologia] Dependência física ou
psíquica.
***
É que cheguei à
conclusão de que todos nós vivemos este padrão repetitivo, compulsivo, de
necessidade incontrolável em alguma área das nossas vidas, não importa a
palavra que escolhamos para o definir. Também não importa que à primeira vista
não te pareça que tenhas alguma compulsão. Mas tens, decerto, de forma mais
clara ou mais subtil, pouco importa.
Para quê? Bem, cada
um terá que ver qual é o propósito dos seus hábitos compulsivos. Mas sabes, no
geral o propósito é o mesmo: mantermo-nos entretidos e submissos a algo mais
poderoso que nós, supostamente. Enquanto acreditarmos que não somos capazes de
transformar esse hábito compulsivo (escolhi chamar-lhe assim, mas podes
escolher a designação que mais te agradar), vivemos sob o seu comando. E o que
acontece é que ocupamos muito do nosso tempo/espaço e eventualmente dinheiro,
ou seja, ENERGIA, nesse mesmo “vício”. E o giro é que é nosso! Não pode ser
mais poderoso que nós porque é uma parte de nós! Não é algo ou alguém que nos
obriga a ficar nesse padrão fixo, é uma parte nossa que nos manipula no sentido
de nos mantermos presos a ela, sem ver para além disso. São partes nossas muito
teimosas, diga-se! E resistentes! Mas se as temos é porque somos igualmente
teimosos e resistente! E capazes de converter a energia usada a validar esses
hábitos compulsivos, de uma outra forma criativa não compulsiva. O problema é
que quando finalmente removemos todos os hábitos compulsivos da nossa vida fica
muuuuuuito espaço vago, muuuuuito tempo livre e ficamos atrapalhados, porque
estávamos programados para preencher o que está vago! E toca de preencher
criando outro hábito compulsivo que substitua o anterior. E depressa, que esse
tempo/espaço todo faz impressão. Ou poderás escolher finalmente permitires-te
sentir como é ter espaço vago na tua vida, tempo livre na tua vida, dinheiro de
sobra… E depois? O depois vai acontecendo!
A que é que chamo de
hábitos compulsivos? Há muitos, e muitos nem sequer conseguirei mencionar, mas
ficam aqui alguns exemplos só para te situares no tema:
Tabaco, álcool, café,
haxixe, erva, anfetaminas, LSD, cocaína e todas as drogas de que te consigas
lembrar às quais possas sentir-te compulsivamente ligado/a, sexo, medicamentos,
doenças, depressão, stress,
ansiedade, preocupação, dívidas, comida, doces, não comer, exercício, controlo
de peso, limpeza, arrumação, trabalho, família, barulho, televisão, computador,
internet, jogos (é giro colocar aqui jogos, porque na realidade todos os
vícios/hábitos compulsivos são jogos!), busca de algo, cursos, compras, filmes,
drama, negócios, mentiras, futebol e outros desportos, animais, plantas,
análise, pesquisa, questionamento, ativismo, luta por uma causa … E tantas
coisas mais. Enfim, tudo o que fazes porque te sentes compulsivamente impelido
a praticar e que de alguma forma te toma
mais tempo/espaço e/ou dinheiro do que seria confortável para ti. Aquilo com
que te entreténs, diria, mas que te faz de alguma forma sentir culpado/a ou que
até gostas mas cujo propósito real te escapa. E saliente-se que não é para ti
claramente um entretenimento, geralmente não te dás conta disso. Tudo aquilo
que te faz sentir farto/a, impotente, incapaz de largar/mudar. Tudo aquilo que
é baseado numa crença que te foi incutida mas que nunca questionaste, ainda que
te obrigue a fazer, dizer, ser de alguma forma que sentes não ser realmente tu
ou a tua vontade. Tudo o que fazes por necessidade. Tudo o que te faz sentir
“menor” ou “maior” do que realmente és. Tudo o que é porque tem que ser. Tudo o
que é porque é o correto. Tudo o que é porque não saberias viver de outra
forma.
Ora sente lá. Respira
fundo, silencia a mente e foca-te num dos teus hábitos compulsivos, um daqueles
que gostarias de alterar mas que sentes que é mais forte que tu. Se tu o
removeres da tua realidade sente lá o espaço vago que fica… o tempo livre que
fica… e eventualmente o dinheiro que sobra…E o Poder que ganhas sobre as tuas
partes rebeldes J
Assusta-te teres assim tanto espaço vago, tanto tempo livre, tanto dinheiro
disponível, tanta auto-responsabilidade?
É um paradoxo, porque
passamos a vida a dizer que queremos ter paz, que queremos ser felizes, que queremos
amor nas nossas vidas, que queremos tranquilidade, que queremos harmonia, que
queremos equilíbrio, que queremos e queremos e queremos… Mas se olharmos
realmente para o que temos, na verdade já lá está tudo isso, só que está a ser
usado de uma forma pouco eficiente mediante o que dizemos que queremos, e por
vezes até no sentido oposto. Será que é mesmo paz que queremos? Será que
queremos mesmo ser felizes? Será? O que vamos fazer então, quando tivermos isso
tudo? Parece que fica um vazio que não sabemos preencher. E não sabemos mesmo,
porque a parte de nós que sabe o que é ser paz, amor, alegria, serenidade,
prosperidade, harmonia, equilíbrio… LIBERDADE- essa parte de nós não é a nossa
parte pensante, que é a que cria os vícios / hábitos compulsivos. É a nossa
Essência. A parte de nós que está para além do pensamento. É a parte de nós a que
se acede através da intuição e do sentir, ou poderíamos dizer, através do
“coração”. Só que nós nunca lhe demos muito espaço/ tempo para se expressar e
mostrar-nos uma forma nova de viver a vida, sem repetição, compulsão, hábito.
Uma vida nova passo a passo, momento a momento, que se preenche por si mesma,
tal como a respiração. Uma vida nova que se cria e recria sem apego ao
conhecido, sem adição, sem necessidades incontroláveis. Uma vida simples,
abundante e plena.
A questão é: ainda
precisas do/s teu/s hábito/s compulsivos? Essas experiências ainda te
preenchem/satisfazem de alguma forma produtiva? Quais são as tuas crenças sobre
a simplicidade?
Depois de reveres estas
questões, e apenas se assim o entenderes, então escolhe de novo. Não há grande
mistério nisto. É mesmo muito simples. É por isso que as partes complicadas têm
dificuldade em conviver com a simplicidade. Ela não é um entretenimento. Ela é
simplesmente simples!
Há também a evidência
de que só podes largar mesmo um vício/hábito compulsivo quando o impulso
interno para fazê-lo for suficientemente forte. Quando o “BASTA!” for
suficientemente verdadeiro e convincente para ti mesmo/a! Quando a escolha for
firme e segura! Quando te assumes com responsabilidade total sobre ti mesmo/a! É
uma espécie de clique interno que te
faz mudar de canal, e de repente vês tudo com muita clareza e perguntas-te
porque continuas com esse hábito e até te ris de ti, com muita naturalidade,
sem mágoa, sem julgamento, sem tapar mais o sol com a peneira. Não é estar
farto/a. Não é isso. O estar farto/a apenas valida o hábito compulsivo, dá-lhe
força para provar que é mais forte que o teu estar farto/a, que a tua zanga com
ele, que a tua vontade de o exterminar. Estar farto/a mantém-te em esforço.
Mantém-te no jogo, lutando contra algo que não queres mas que ainda assim
sentes que é mais poderoso que a tua vontade. E lutas, e lutas, e lutas.
Xiiiii! Quanta energia gastas nisso! Estar farto/ é ainda uma negação de ti
mesmo/a, não aceitação – desamor. O clique
é aceitar que tens esse hábito compulsivo, aceitar que te tens divertido com
isso, que tem servido algum propósito até agora útil e a decisão de que já não
te serve mais. Sem luta. Sem culpa. Sem mágoa. Com gratidão. Com leveza.Com
SIMPLICIDADE!!! Aí não há hipnose que te comande! É que um hábito compulsivo é
como uma hipnose auto induzida. É por isso que a hipnose clínica funciona bem
para mudar hábitos. Só que ela também coloca em ti um outro gatilho que se opõe
ao hábito, acabando por eliminá-lo. Mas fá-lo fazendo-te sentir que aquilo te
faz mal, que te prejudica, que tens que largar esse hábito porque te é
desconfortável. O que sugiro aqui é assumires o teu próprio poder! Sem necessidade
de gatilhos para te fazerem largar o que já não queres. O que te proponho é que
olhes para ti com muita honestidade e transparência, que vejas se esse hábito
ainda te serve, e que reconheças para que te tem servido. Que escolhas o que
queres. Que largues porque é a tua escolha, porque esse jogo chegou ao fim,
porque já não te diverte, porque queres ter essa energia disponível para usar
de forma criativa, para viver assumindo a tua vida, o teu poder, a tua
realidade, o teu mundo! Afinal de contas és só tu contigo mesmo/a! Os teus
hábitos compulsivos são teus! Sim, podes ter o “apoio” de outros para jogar
esse jogo, é verdade, mas és tu que decides quando o queres largar. E quando
largas o jogo essas pessoas que jogavam o jogo contigo terão que jogar com
outra pessoa.
Depois de largar o
dito vício podes escolher desfrutar do que era um vício quando te apetecer, não
por compulsão ou necessidade, e sem medo de seres impelido de novo para o
hábito. Porque haverias de ser? É essa a tua escolha?
Escolhe e deixa que
aconteça por si mesmo, porque escolheste, sem mais lutas contra… Coopera com a
tua vontade real, sem lutar mais contra o que defines não sê-lo. Confia na tua
capacidade natural, intrínseca e inata de largar o dito vício naturalmente –
sem esforço.
Não podes ser mais
pequeno que tu mesmo!!! Aliás, o que mete medo é mesmo a tua grandeza porque
esse espaço todo que fica vago, esse tempo todo é energia disponível para a tua
consciência expandida e ela é muuuuuuuuuuito ampla, muito mesmo. E puft! O jogo da pequenez desaparece J
Exercícios de Reflexão:
Quais são os teus
vícios / hábitos compulsivos? Procura responder sem pensar, permite que te
ocorram as respostas.
Que propósitos servem?
Ainda precisas do/s
teu/s hábito/s compulsivos? Essas experiências ainda te preenchem/satisfazem de
alguma forma produtiva?
Se os removeres da
tua vida, assusta-te teres assim tanto espaço vago, tanto tempo livre, tanto
dinheiro disponível?
Quais são as tuas
crenças sobre a simplicidade?
O que é que escolhes
para ti a partir deste momento?
A SEGUIR:
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