Dia 18 – 30 de Agosto
de Alma e Coração
Este lugar é super sossegado, tirando os hóspedes do quarto
ao lado que decidiram falar, “brincar” e depois sair de saltos altos e voltar
tarde, tivemos uma noite tranquila.
Ontem a senhora da casa recomendou-nos um monte de sítios
para visitar, orgulhosa da sua zona, mas claro que não vamos poder ir a todo o
lado.
Escolhemos passar por um dos sítios que ela referiu –
Portugalete (o nome ficou-nos no ouvido…) – mas só depois de passar por Bilbao.
Chegados a Bilbao o que queremos mesmo ver é o Museu Guggenheim – por fora, claro, que entrar lá dentro levaria um dia inteiro a visitar.
Wow! Que criação magnífica! Damos a volta completa ao edifício e não há ângulo que não seja fotogénico! É impressionante como foi possível criar um edifício assim. Uma obra de arte gigantesca, tal como as catedrais que temos visto no caminho.
Há uma exposição fotográfica que mostra como era este lugar antes – um estaleiro feio e cheio de negrume dos tempos de fábrica. Foi daí que surgiu o impulso criativo para esta gigante “escultura” – a temática fabril, de estaleiro portuário.
É daqueles sítios que se visita e se fica cheio de um não-sei-quê tilintante, aquele frenesim que enche as veias de paixão pela vida. Hummmm que bom é transbordar de criatividade e inspiração!
Até o cão feito de flores à entrada desta Catedral das Artes é simplesmente fabuloso!
Estamos nem sei dizer como. Acho que as palavras chegam a ser demasiado limitadas para descrever estas sensações de bem-estar, equilíbrio, placidez, sei lá, é um transbordar de plenitude. De tal forma que num semáforo à saída de Bilbao há uma estátua que vista de um certo ângulo parece Jesus a descer dos Céus e a abençoar-nos em pessoa!
E agora é a vez de Portugalete.
Esta cidade tem a ponte transportadora mais antiga do mundo
– a primeira a ser construída em 1893 e é hoje Património da Humanidade. É uma
espécie de ferry suspenso por uns cabos que através de umas roldanas colocadas
numa estrutura de ferro desliza de um lado ao outro do rio, levando carros e
pessoas.
Valeu a pena vir ver, não só a ponte transportadora (rolante
– como lhe chamam aqui em Espanha), como o resto da vila com um arquitetura
interessante.
Trouxe a saqueta de chá para por numa das garrafas de água 😉
Assim temos chá fresco num instante, o resto do dia.
A chuva decidiu dar-nos tréguas para podermos passear e
ainda bem, porque não temos roupa nem calçado para este tempo. De todo o modo
sabe-nos bem o tempo mais fresco.
Não é de espantar que a chuva tenha amainado, porque na
verdade fizemos a escolha de poder visitar Portugalete de forma simples e confortável
e ainda que não sejamos donos e senhores do clima, de uma forma ou de outra
chegámos na hora certa, em sincronicidade para encontrar o resultado da nossa escolha.
A minha escolha do dia, esqueci-me de te dizer, é: Serenidade
em total entrega à minha Essência.
E não podia deixar de ser assim, porque ao cabo de tantos
dias em liberdade total, com tantas horas de silêncio, apenas sentada no carro
a apreciar as vistas, não posso estar senão em Serenidade.
É como se a minha Essência me tivesse convidado para ir a um
jardim botânico mas num carrinho que me leva pelo parque, para apreciar tudo só pelo gosto de apreciar. É assim que me sinto.
Ah, mas tenho que te explicar o porquê do nome: Portugalete.
Enquanto estamos a olhar para o mapa, numa das ruas da
cidade, uma senhora simpática pergunta-nos se precisamos de alguma coisa.
Diz-nos que trabalha para a câmara e que está ao nosso dispor.
Ficamos
maravilhados! Uma funcionária pública a oferecer-se para ajudar turistas na
rua!!! Que privilégio. Seja como for não temos, assim de repente, nada para
perguntar.
Ela segue o seu caminho e depois lembramo-nos que lhe
poderíamos ter perguntado qual é a etimologia do nome da cidade. “Mas adiante,
a oportunidade já passou” – dirás tu.
Errado.
Quando vamos a chegar ao carro, com
quem é que nos cruzamos novamente, mesmo em frente ao posto de turismo? Com a
senhora simpática que começa por dizer-nos que adora Portugal e que costuma ir
lá passar as férias do verão todos os anos. Isto porque lhe dizemos que somos
de Portugal e estamos intrigados com o nome da cidade.
Ela sorri, e informa-nos que, apesar de parecer ter alguma
coisa a ver com Portugal há várias hipóteses e nenhuma delas inclui o nosso
país. A mais plausível é que a palavra seja uma combinação de Portu (porto) e
Galete (galeão), sendo este um importante porto de passagem.
E fica assim satisfeita a nossa curiosidade. Agradecemos e
despedimo-nos para seguir rumo a... bem, isso decidimos entretanto, deixando que o nosso "faro" para lugares magníficos nos guie.
Para não destoar, a próxima paragem é num lugar igualmente deslumbrante, mas desta vez de cariz Medieval. Chama-se Santillana del Mar e está
situada na região Espanhola da Cantabria. Ficamos fascinados com o estado de
conservação impecável de todo o casco histórico, o pitoresco e antiquíssimo
esboço do que seria a vida há algumas centenas de anos atrás. Pertence com
muita dignidade à rede das aldeias mais bonitas de Espanha.
A igreja românica é uma relíquia encantadora, como aliás
tudo o resto aqui.
Diz-se que é a Vila das Três Mentiras porque não é um Santo
(Santi), nem plana (llana), nem fica perto do mar. Mas o nome deriva de Santa
Juliana (Santa Illana) cujos restos mortais se encontram na dita igreja.
Perto de Santillana situa-se a Caverna de Altamira, um dos
conjuntos pictóricos mais importantes da pré-história e faz parte, mais uma
vez, do Património Mundial da UNESCO.
Ainda chegamos a ir até à entrada mas decidimos não apear-nos para a visitarmos desta vez. Pode ser que de uma próxima
que passemos de novo por estas paragens a visitemos.
Seguimos para San Vicente de la Barquera, uma vila- baía à
beira das Astúrias. Outro lugar muito bonito e harmonioso, com praias, rio, história
e serra tudo à mistura.
Quanta beleza aguentamos num dia?... Resposta incógnita!
Realmente é preciso ter um coração forte para aguentar tanta abundância, tanta
intensidade de uma assentada só!
A próxima paragem é em Ribadesella onde encontramos um
extenso relvado à beira do rio, com bancos e mesas e água para lavarmos a loiça
do almoço/jantar.
Adoooro andar assim ao ar livre todo o dia! Sinto-me como
uma Pocahontas, irreverente e descomprometida com os desígnios sociais que
normalmente nos restringem. E ainda por cima tenho a honra de poder viajar com
um companheiro igualmente índio! Pode dizer-se fielmente que toda esta
combinação é perfeita – nós, os lugares por onde passamos, a harmonia que
sentimos e vivemos, a cumplicidade no sentir e no discernir. Se “Perfeito”
existe é isto.
Depois de algum tempo no relvado imenso onde observamos a
calma que inunda as pessoas ao passearem em torno deste verde à beira-rio,
seguimos para Cudillero – uma vila costeira que a Sara (de Barcelona) nos
recomendou vivamente.
Passamos ainda por Gijón no caminho, mas não paramos.
Chegados a Cudillero vemos um amontoado de casas,
empertigadas por uma escarpa acima, todas umas em cima das outras, com cores
diferentes como se fossem um bouquet bem arranjadinho para oferecer a uma bela
dama. É realmente fora do comum este vilarejo piscatório e vale a pena a
visita.
O sol põe-se no horizonte, difundindo uma névoa rosa
alaranjado e as luzes da aldeia começam a acender-se, cintilando monte acima
como uma árvore de Natal.
Subimos pelas ruelas estreitas, tal e qual cabras
montanhesas em busca de um poiso mais alto para mirar a paisagem que se estende
mar adentro, até onde a vista alcança. A dado momento decido parar de subir, já
vi o suficiente, mas o Pedro ainda sobe mais. Combinamos encontrar-nos lá em
baixo.
Há imensa gente a chegar para o jantar. Deve comer-se aqui
excelente marisco e “pescado”, como se diz aqui em Espanha. Mas nós já temos o
papo cheio, de comida e de beleza, por isso basta-nos desfrutar do panorama
invulgar de Cudillero.
Faz-se noite rápido e é hora de arrepiar caminho para
descobrirmos o "hotel drive-in" para a noite.
Tomamos o caminho para Léon mas como esta é uma zona
extremamente montanhosa, optamos pela autoestrada.
Estamos confiantes de que vamos encontrar uma boa estação de
serviço algures, brevemente.
Enganamo-nos.
A montanha é tão íngreme que não há espaço para grandes
estações de serviço e ao cabo de uns bons quilómetros, vendo que esta estrada
tem pouquíssimo trânsito, decidimos parar numa daquelas áreas de repouso à
beira da autoestrada, só que esta é super pequena, mas ainda assim
absolutamente tranquila.
Está um frio de rachar e aprontamos a nossa carvan num
instante! Lavamos os dentes com água da garrafa e estamos prontos para uma boa
noite de sono. Ao menos hoje não temos que nos ralar com o calor e podemos
dormir aconchegadinhos debaixo dos nossos sacos de cama que até agora pouco
usámos.
E que sossego! Já para não falar do ar puro de montanha que
nos enche os pulmões e a alma.
Hummmm! Bons sonhos <3
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