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domingo, 3 de janeiro de 2021

A minha partilha de Ano Novo

O que aí vem


2020 despediu-se, inusitadamente silencioso, dando por sua vez lugar a 2021 que apresentou sem grande alarido.


E ainda que este último ano tenha sido atípico de tantas formas absolutamente imprevisíveis, foi precisamente esta imprevisibilidade atípica que lhe conferiu as suas 3 maiores dádivas: 


  1. Para;
  2. Deixa ir;
  3. Olha para dentro.



O cerne da minha Mensagem de Ano Novo é:


“Este é o único momento que existe e ele é unicamente especial - tal como Tu És.”


Não existe outro momento em que possas estar Presente. Esta é a tua Casa. Este é o Espaço Seguro onde te encontras e existes para lá do Espaço e do Tempo. 


Onde não estás agrilhoado pelas circunstâncias externas e onde as circunstâncias internas que parecem prender-te podem vir descansar no teu amor único, especial. 


Aqui é onde percebes que o passado não é para ser mantido refém das tuas emoções e medos e que tu não existes para ser aprisionado por nada, ninguém, em nenhum lugar. 


Aqui é onde qualquer parte de ti que esteja protegida pela escuridão da separação pode ser aceite, abraçada e libertada, numa diluição alquímica interna, distilada na pura Essência de Ti. 


É aqui que o agora do que vem a seguir se inicia, no fluxo e refluxo de cada respiração, compassivamente livre dos julgamentos limitantes do conhecimento passado, não obstante bebendo da sabedoria eterna de tudo o que jamais foi.


É aqui, agora, que descobres o que há de especialmente único em ti - o que te alimenta, te eleva, te preenche de paixão, de verdade, da simplicidade de ser para que o fazer se torne iluminado em si mesmo. 


É esta Respiração, aqui, agora. Sem necessidade de procurar outra.


A maior dádiva é chegar à realização que o novo se torna possível apenas no agora e aceitá-lo, vivê-lo. É isto que torna este momento tão especial. 


Tal é o tesouro da mudança. 



Então o que está para vir?


Em 2020 o mundo inteiro teve que pôr os pés nos travões de forma brusca e inesperada, sem precedentes - todos, independentemente da sua classe, género, credo ou cultura foram convidados a PARAR. Reavaliar. Largar. Olhar para dentro.


Todos, por toda a parte, receberam o convite para um massivo largar de necessidades, esperanças, sonhos e expetativas.


Então o que está para vir? O que é que 2021 traz consigo? 


O mais essencial é que apesar de muitos visionários terem partilhado que 2020 seria um ano desafiante, ninguém, nem eles próprios, poderiam ter-nos dito o que veio a acontecer porque só quando se está no momento é que ele pode ser visto, sentido e vivido. 


Por outro lado, não é o simples repicar dos sinos da meia noite que dissipa de repente tudo o que não se apreciou, como se a varinha mágica do ano novo pudesse consertar todos os desconfortos.


E assim é que o que vem a seguir é exatamente o que cada um está a vivenciar agora mesmo. 


É frustração, medo, raiva, luta, sentir-se perdido, só, em escassez, desesperado? É sentir-se aperreado, sem liberdade, controlado, sem saúde? Então é isto que está para vir porque não há um próximo momento que não nasça deste momento presente.


Ainda assim, cabe a cada um a escolha de como se torna consciente do seu mundo e isto só por si determinará como a onda de 2020 rolou para 2021 e daí em diante impregnará a areia das nossas praias pessoais. 


É uma escolha muito pessoal esta de definir o que aí vem. Será definido como medo, controlo, luta social e politica, colapso económico…ou?


Ou o encontrar de uma nova liberdade interior, novas formas de gerir as finanças, crescimento pessoal, responsabilidade social, consciência ambiental, coesão, compaixão, desacelerar, perceber que nunca estivemos sós, dissolver o fosso entre o Humano e Divino, libertar a necessidade de ser-se vítima, tomar responsabilidade e agir em conformidade com isso. 


Onde te encontras tu agora? Qual é o teu grau de compromisso com cuidares-te e adaptares-te à mudança, largando a necessidade de um mapa e abraçando o território não cartografado, sabendo que estás Seguro de dentro para fora, largando a necessidade de julgar, limitar, ficar preso no medo, na zanga e na frustração? 


Que história ou histórias prendem a tua atenção mais do que a tua liberdade interior, a tua paz, a tua infinita quietude, a profundidade do teu silêncio, o calor do amor em ti que reside para além das palavras, a confiança no teu potencial ilimitado que te permite ultrapassar as limitações da dualidade - qual é o tamanho do teu NÃO e do teu SIM, até que ponto estás disponível para dar descanso ao Guerreiro em ti? 



O legado de 2020


Este passado ano de 2020 ocorreram algumas coisas extraordinárias e foram colocadas ao nosso dispor algumas oportunidades e dádivas sem precedentes.


Os ajuntamentos sociais e eventos de grandes proporções foram embargados, levando o mundo a travar o seu ritmo estonteante, para que pudéssemos realmente ficar connosco próprios e… olhar para dentro, tornarmo-nos a nossa melhor companhia, enfrentarmos o medo de estar sós, percebendo que cá dentro somos inteiros, unos e únicos, descobrindo isso mais e mais e mais. 


Os lugares de culto foram impedidos de grandes aglomerações, convidando cada um a olhar para dentro, permitindo que Deus brilhe da única forma possível: com a nossa Presença, aqui, agora, de dentro para fora. 


Sentimentos de vitimização foram exacerbados para que cada um possa ficar ciente de porque se sente assim, se quiser. Para que possamos virar-nos para dentro, onde as pequenas crianças em nós choram, carentes do nosso próprio amor, pedindo para serem abraçadas com carinho, conforme aceitamos em compaixão tudo o que fomos para que o que somos possa irradiar. 


Muitos sentiram um enorme medo deste vírus invisível que trouxe consigo a grande oportunidade para cada um cuidar  melhor de si, tomando responsabilidade pela sua própria saúde, estimulando o seu sistema imunitário com autorrespeito e hábitos saudáveis, desacelerando a correria constante na senda de uma vida movida pelo sucesso e seguranças externas ilusórias. 


Muitos foram assolados pela experiência de escassez repentina, onde não ter dinheiro trouxe a oportunidade de rever hábitos de consumo, necessidades, quereres, prioridades, o que cada um pensa sobre o dinheiro e como cada um se sente em relação ao seu merecimento dele. Foi-nos dada a chance de fazer uma revisão massiva do que se crê ser o sucesso, de onde nos dirigíamos e onde queremos mesmo estar, de como queremos mesmo sentir-nos e do que estamos de facto a fazer para que as escolhas que sentimos com todo o coração possam ser vividas no dia-a-dia. 


O “já chega” tornou-se suficientemente alto para ser ouvido, visto, sentido e abraçado ou rejeitado. 


O medo da morte trouxe consigo a oportunidade de realmente valorizar e honrar a vida e aceitar que ninguém deixa a vida na Terra sem que seja o seu momento para partir e que todos se mantêm vivos no nosso coração, se assim o permitirmos, sem apego. 


A necessidade de largar tornou-se visível e tangível como nunca antes e a escolha de viver esse deixar ir com gratidão ou com rejeição pertence a cada um.


Num revés surpreendente, o mundo inteiro parou durante um mês e meio e a Natureza teve a oportunidade de respirar fundo e regenerar-se a uma velocidade ainda maior do que a montanha-russa que precipitou esta paragem que se adivinhava já tão necessária.


Agora imagina, se a Natureza conseguiu encontrar um novo equilíbrio com tanta graciosidade logo que saímos do seu caminho e a deixámos fazer o que sabe tão bem fazer, o que poderia ocorrer se declarássemos coletivamente, à escala global e de forma voluntária uma paragem de um mês por ano?


Felizmente, tantas coisas nunca mais vão ser o que eram e a adaptação à mudança tornou-se o novo Mestre… mas se for vivida em luta pode tornar-se um verdadeiro pesadelo também. 


Resistência ou fluxo? Cada um tem direito ao seu próprio livre arbítrio, sempre. 


Os hábitos de viagem e turismo, as reuniões de negócios, as deslocações para o trabalho, a forma como se vive e partilha a arte, a indústria do entretenimento, os grandes ajuntamentos de qualquer etiologia, o valor que damos aos outros, as dinâmicas de família, o valor que damos a nós mesmos, a economia mundial, as estruturas políticas e sociais, os sistemas educativos, a cidadania global, a tecnologia e os seus impactos - tudo isto e muito muito mais mudou, definitivamente. 


Encontrar novas formas de fazer e perceber, tornarmo-nos flexíveis, responsáveis, maduros, soberanos são agora mais que nunca, ingredientes essenciais para uma vida equilibrada num cenário claramente mutável. 




2020 e 2021 para mim


Para mim 2020 foi um ano de Verdade. Em todas as circunstâncias, com todas as pessoas, em todos os lugares. Viver a minha Verdade, ouvi-la, expressá-la e saber que este é o meu maior serviço para mim mesma e para todos.


Quando o mundo parou sorri. Tantas vezes houvera expressado que abrandar poderia trazer enormes mudanças. E trouxe. Não foram fáceis ou bem vindas por todos mas foram e são uma gigantesca oportunidade para rever, reavaliar, realinhar, apesar das contrariedades.


Sempre que senti que me estava a ser tirada a liberdade, apenas precisei de tomar uma doce respiração e mergulhar ainda mais fundo em mim, expandindo a minha consciência para além do que alcançara até agora, abrindo novos níveis de silêncio, quietude, paz, liberdade plena. 


O amor em todas as áreas da minha vida voou para novos céus de expressão e a Abundância tornou-se a norma, natural. Eu. Algo que sempre foi. A minha perceção e experiência desta Abundância é que se expandiu, conforme permiti e permito. 


A Compaixão é vivida em cada respiração, aqui, no meu centro e nada é mais relevante para mim do que Ficar, Presente. Permitir que as dádivas da minha Essência esculpam o meu caminho conforme caminho em Confiança plena, sem ter que saber o próximo passo porque o Agora é tudo o que existe para mim.


Quanto mais Fico e Permito, menos sei. E isto é puro contentamento. Descubro a minha sabedoria momento a momento, assim como ela se vai mostrando, escoando logo de seguida para o vazio onde sei que permanece acessível. 


A brisa suave da minha respiração esvoaça gentilmente como as asas de uma borboleta, criando ondas do que parece ser magia mas que sou convidada a perceber como o simples e natural fluxo de Ser e Estar Presente. 


Por isso sim, 2021 está aqui e eu também estou e Sou.


Talvez nos encontremos pessoalmente este ano ou talvez apenas sintamos a Presença um do outro na nossa consciência expandida sem espaço ou tempo, no todo eterno que somos. De uma forma ou de outra celebro-me, celebro-te, celebro-nos em pacífica Gratidão, nesta respiração.


Em honra àqueles que já não se encontram entre nós aqui na Terra, agradeço a graça de estar num Corpo físico e de poder celebrar a Vida conforme ela se me apresenta. Estou abundantemente disponível à sua inteireza e honro os que partiram valorizando o seu legado com o que há de especial e único em mim. 


Que todos sejam abençoados e que 2021 esteja preenchido com o que há de unicamente especial em cada um de vós. 



A celebrar a meia noite ao meio dia 👌no miradouro do Convento de Cristo, Tomar


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