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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A minha Mensagem de Natal… Sobre o Sacrifício, os Lugares Sagrados e a Devoção

 A minha Mensagem de Natal… 

Sobre o Sacrifício, os Lugares Sagrados e a Devoção



As palavras fascinam-me e esta em particular - Sacrifício - intriga-me. Não é a palavra em si que me intriga, mas a forma como foi transformada em algo não tão simples como é na sua raiz.

Ela deriva do latim Sacrificum que quebrado em dois será Sacrum Ficium. Há quem diga que se trata da junção de Sacrum e Facere mas fiquemo-nos pela primeira que na verdade é semelhante a esta segunda.

Sacrum significa Sagrado e Ficium será Ofício. Já Facere é Fazer, pelo que Ofício ou Fazer são sinónimos.


Desta feita e muito simplesmente, Sacrifício é um Sagrado Ofício, Fazer o Sagrado.


Nesta definição do Dicionário Etimológico:


“Do latim sacrificium, composto de sacer e ficium. Palavra afeta ao contexto das antigas celebrações ritualísticas da cultura indo-européia, significando exatamente o "ato de fazer/manifestar o sagrado"- ou seja, o "ato de passar da esfera do profano para a esfera do sagrado". Na língua portuguesa a palavra tem o sentido de "privação, voluntária ou forçada, de um bem ou de um direito". Este significado constitui uma redução do campo semântico original do vocábulo, acima referido, de que se manteve apenas a referência à prática, nos ritos, de oferecer-se um bem a uma divindade, com vistas à obtenção de alguma dádiva.”


https://www.dicionarioetimologico.com.br/sacrificio/


Será então a entrega do Humano ao Divino. Tão só isto e ao mesmo tempo tudo isto. O que não implica na sua raiz rituais em que se oferecem coisas, comida, animais e até mesmo pessoas, mas sim a devoção plena, o render do livre arbítrio Humano à vontade Divina. 


Dito de forma tangível, o deixar de ter que controlar, de ter que ter poder sobre, de ter que separar-se, o deixar de ter que conhecer o caminho e o permitir-se saber no momento. A rendição do Humano ao Divino é a libertação do reinado do Ego que passa a estar ao serviço do Ser.


Simples. Tão infinitamente simples. E no entanto tão difícil que ao longo das eras da Humanidade foi-se deixando de parte o que realmente importa: a entrega de si mesmo à dita “vontade de Deus” em si, e foram-se criando formas externas de sofrimento para celebrar ritualisticamente o que não requereria tamanha pompa e circunstância. Bastaria um ficar consigo mesmo. Em profunda comunhão entre o Humano e o Divino, escolhendo entregar a sua vontade Humana, plena de desejos, escassez e limitações, à vontade do seu Eu Maior, o Deus em si, ilimitado e abundante, pleno e em Amor absoluto. Tão só isto.


Será que podemos voltar à origem? Largar a necessidade de ritos públicos que supostamente provam que somos devotos, bons e merecedores e comungar com o Deus que há em nós em cada respiração, neste nosso Templo que é o corpo que o alberga em plano físico? Será que é possível largar a necessidade de sofrimento contínuo e abraçar a libertação que a fusão Humano Divino proporciona? Aceitar a paz profunda que emana do Silêncio no seio do nosso Ser e saber que é verdade? Que está aqui mesmo no nosso centro, o nosso Espaço Seguro, o retorno a Casa, em unidade?


Assim o próprio significado de Compaixão poderá voltar ao seu estado original de aceitação plena livre de julgamento, um estado tão neutro que tudo abarca e abraça naquilo a que se chama de Amor Incondicional e que o é, de facto. Sem a deturpação da pena dos coitados sofredores que é em si um conceito separatista que coloca uns acima (ou abaixo) dos outros.


A devoção é algo simples que não requer amplos rituais e provas. É uma vontade de verdade tão firme, um compromisso tão inabalável que não há em nós dúvida alguma sobre a nossa entrega em completa confiança à fusão Humano e Divino, o largar completo da necessidade de caixas conceptuais para nos ajudarem a encontrar sentido e o aceitar do que está para além do imediatamente compreensível, deixando que a perceção desse todo maior aterre em nós uma respiração de cada vez. Sem agenda.


Os ritos públicos poderão continuar, sempre, mas agora sem a ânsia que lhes é atribuída como única tábua de salvação. Apenas como mais um dos muitos momentos sagrados das nossas Vidas. 







Toda esta perceção tornou-se clara para mim quando há dias visitei o Santuário de Fátima. Um lugar onde milhares e milhares de seres humanos têm manifestado a sua devoção ao longo de pouco mais de 100 anos. Milhões, biliões de orações, ladainhas contínuas de entrega à vontade Divina, verdadeiros mantras em que gradualmente se perde o próprio significado das palavras e fica apenas o foco no poder maior que transcende as limitações da matéria.


E ainda que com muita deturpação e sofrimento à mistura, a força desta devoção, criada pelos próprios seres humanos que ali convergem, manifesta naquele lugar uma aura milagrosa onde por momentos o humano acredita que tudo é possível, abrindo-se para curas extraordinárias e mudanças incríveis a todos os níveis. 


E assim é em todos os lugares de devoção ao redor do mundo. De todos os credos sem exceção ou exclusão.


É a força da devoção humana que cria a abertura para que os milagres se manifestem na sua vida, a possibilidade de o Divino se mostrar e manifestar outro caminho para além do sofrimento.


O mesmo se passa com os dias Sagrados ou Santos, em qualquer credo. É a atenção especial que lhes é dada, a devoção com que são celebrados, que lhes confere a sacralidade, pois à exceção de alguns dias em que há conjunturas planetárias e estelares que os tornam mais poderosos e propícios a certas aberturas de consciência, todos os dias sem exceção são tão especiais quanto os quisermos tornar.





Curioso que essa devoção seja manifestada apenas nos chamados lugares e dias sagrados, pois à pergunta: onde está Deus? A resposta é simples: Deus está onde nós estamos - Presentes, agora, aqui, cientes de que o sagrado existe. E não só existe como É em nós, através de nós - a eterna Presença Eu Sou. Não está algures lá fora, está e sempre esteve aqui, à espera de ser visto e aceite. Deus parece não estar onde nós próprios estamos removidos do Divino. Mas está, porque cada um de nós é Deus também. É como se estivéssemos de costas voltadas para o paraíso, a olhar apenas para o inferno e de repente nos lembrássemos que basta voltarmo-nos para o outro lado e assim poderemos ver tudo e reunir ambos, diluindo a dualidade. 


Agora pergunto:


E se todos os seres humanos que convergem para estes lugares sagrados tivessem o mesmo grau de devoção no seu dia-a-dia em tudo o que pensam, dizem e fazem, reconhecendo o sagrado no corpo que os alberga, no lugar onde vivem e em todos os lugares por onde passam, nas pessoas com quem se cruzam e em todas as atividades que executam, em cada respiração que tomam?


E se todos os seres humanos que convergem para estes lugares sagrados se percebessem e assumissem como Deus também, dignos e merecedores de uma vida sem sofrimento, em entrega total à partícula Divina que habita em si como em todos, sem separação?


E se todos os seres humanos que convergem para estes lugares sagrados se rendessem à reunião do Humano com o Divino, uma respiração de cada vez, permitindo-se ver para além das limitações da dualidade, aceitando o uno que nasce em cada momento de Presença total no aqui e agora das suas vidas?


Todos os lugares passariam a ser sagrados e todas as vidas passariam a estar plenas do que parecem ser milagres mas que são tão só e apenas a totalidade de quem realmente somos quando deixamos de ter que ser apenas Pequenos Eus Humanos. 




O mais incrível é que esta minha epifania não me parece uma utopia mas sim um verdadeiro potencial e nisto celebro.


Pois Jesus não repetiu que ele era o único filho de Deus como é interpretado e repetido por muitas religiões cristãs, mas sim que todos, tal como ele, o eram. Todos eram divinos, todos eram na sua essência amor e todos seriam capazes de fazer as coisas que ele fazia e mais.


Comunicar com os anjos, Mestres Ascendidos e restantes seres de Luz não é um dom exclusivo de alguns. Está disponível para quem se abra a isso, quem se queira permitir tal comunicação que não ocorre apenas em alguns lugares, mas em todo o lugar onde estejamos inteiramente Presentes em nós, abertos para o Divino da mesma forma que para o Humano, em silêncio, rendidos e disponíveis para sentir e ouvir. Simplesmente isto.


Cada um escolherá para e por si onde e como quer estar na sua aproximação da unidade Humano Divino. O seu livre arbítrio assim o permite. E nisto, tudo está bem em toda a criação.


Celebro e sorrio. O Amor pode realmente ser visto, sentido e escolhido, sendo o regaço em que o Medo vem repousar, descansando enfim da sua árdua tarefa de criar a ilusão da separação.



Um Presente para ti: O Natal em Ti  


(Trata-se de uma das minhas partilhas de Respiração Consciente no Insight Timer e que podes ouvir clicando no link acima: 


Nesta curta experiência com Respiração Consciente, partilho contigo como vivo o Natal em mim todo o ano. Obrigada por me acompanhares nesta viagem. Para esta experiência, por favor encontra um lugar sereno onde possas ficar sentado ou deitado confortavelmente. Respira sempre pelo nariz, enchendo a barriga com cada Respiração. Por favor utiliza fones para tornar a experiência mais profunda. Obrigada.)



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