Dia 14 – 26 de Agosto
Entregue à minha Essência
Hoje é o dia em entramos de novo em França, mas antes disso vamos
passar por Turim e logo decidimos se paramos ou não.
A minha escolha do dia é: abraço alegremente o dia em total
entrega à minha Essência.
E sei que com esta simples escolha o dia estará pleno de
belas surpresas J
Desmontamos a tenda calmamente... já há uns bons dias que
não dormimos na car-van mas hoje será esse o caso, provavelmente. Com os olhos regalados na
paz do lago Maggiore, o corpo a tilintar com o canto dos pássaros e vontade de ficar
assim, em paz, rumamos a Turim – mais uma cidade imponente, com muitas
histórias para contar, muita arte e engenho e... decidimos seguir ao encontro
dos Alpes em vez de parar na cidade.
Põe-se a questão de escolher entre ir pela autoestrada,
porque se calhar a estrada pelos Alpes tem muitas curvas (mais por minha causa
que não gosto muito de viagens com muitas curvas), mas acabo por assentir que a
estrada nacional será com certeza mais interessante.
Antes disso passamos por um supermercado para nos
abastecermos de fruta e de alguns alimentos típicos da Itália para as nossas
saladas dos próximos dias. Compramos uma focaccia, um frasco de cogumelos
conservados em óleo e especiarias e um frasco de pimentos com courgette e
beringela, bem como algumas frutas e salada, um pacote de batatas fritas – que não
faz falta mas sabe bem – e estamos prontos para os Alpes.
Paramos à beira da estrada para o nosso pequeno-almoço
almoçarado e deliciamo-nos com os cogumelos dentro da focaccia fresca, junto
com alguma salada. Sentados no passeio ao lado de um cedro, com campos verdes
de um lado e do outro da estrada, parece-nos que estamos num qualquer outro
lugar que não neste ponto de passagem onde os carros desfilam espaçadamente mas
em que ninguém faz caso deste nosso poiso. Sabe bem estarmos assim, livres de preconceitos.
A viagem pelos Alpes começa a ganhar balanço e que encanto!
Passamos pelo Vale de Susa, pelas aldeias de Exilles e Oulx e várias outras
cujos nomes não tenho agora em mente e o cenário é deslumbrante 100% do tempo!
Grata por me ter deixado levar por estes caminhos onde os penhascos pintados de
verde são ladeados por vales onde correm ribeiros cristalinos.
O ar é puro e
fresco, dando-nos recobro depois de tantos dias de calor intenso.
As aldeias com casas típicas são lindissimas e não
resistimos a parar à beira da estrada para molharmos a cara num dos ribeiros
que nos convida a sentir as suas pedras redondas debaixo dos nossos pés. Hum
que água gelada e limpa! Até aproveito para lavar as cuecas do dia anterior ;)
A entrada em França é uma continuidade de beleza e a
primeira vila histórica mesmo na fronteira, Montgenèvre, chama-me para
fotografar os coloridos arranjos de flores nos vasos que decoram a beira da
estrada.
Não caibo em mim de felicidade e plenitude!
Todo este cenário me faz lembrar as histórias da Heidi de
que tanto gostava quando miúda. E sinto-me como ela – uma miúda alegre e
traquinas, como se estivesse a correr pelo monte abaixo de braços abertos e
cabelos ao vento gritando “LIBERDADEEEEEE” J
Paramos num lugar idílico: um lago no Pays des Écrins (Altos
Alpes). É uma praia fluvial com imensa gente espalhada pela relva e a brincar
na água que parece suave como uma cama de veludo na qual se mergulha e desfruta
de Ser fluido.
Hummm! Que bênção!
Brincamos na água, deitamo-nos na relva. Descansamos e pensamos que se calhar é preciso continuar o caminho, mas até podíamos ficar por aqui o resto do dia.
Enfim, vamos.
Como sabes, esta nossa viagem chama-se Eco Trip porque
pretendemos que seja o mais sustentável possível e nesse contexto evitamos
comprar garrafas de água quando podemos comprar garrafões e sempre que é
possível enchemo-los com água da fonte para comprar o mínimo de plástico possível.
Aqui nos Alpes encontramos a fonte que temos vindo a procurar – água bem
fresquinha e num cenário bucólico perfeito.
Passamos por muitos mais lugares de cortar a respiração e
como vejo que o fim do dia se vai aproximando e hoje apetece-me parar de andar de carro mais cedo, consideramos dar o dia por terminado por volta das 5 da tarde, neste lugar da
foto, mas o Pedro diz-me que poderíamos aproveitar e fazer mais uns quilómetro
e lá vamos nós. Não fazemos a menor ideia onde vamos pernoitar mas o lugar
há-de aparecer.
Já mais pelo final do dia paramos num sítio à beira do rio
Ladrôme, a seguir a Die, que tem duas autocaravanas paradas, uma que parece
estar permanentemente ali, pertencente a um jovem punk com vários cães que
convive alegremente com os amigos à mesa à porta da sua “casa” bastante
desarrumada.
Há também um carro de dois lugares espanhol, de um casal de jovens que parece estar a discutir junto ao ribeiro - aquelas conversas de casal em que cada um puxa para o seu lado e que felizmente não nos assolam - e certamente vão também dormir por aqui.
Começamos por montar a tenda mas depois decidimos que dentro
do carro – desculpa, car-van – estamos mais abrigados e assim nos quedamos
neste sítio sossegado onde o ribeiro corre no silêncio da noite e muito poucos
carros passam na estada mais adiante.
De manhã vou poder começar o dia com um banho gelado nesta
água cristalina.
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