Dias Especiais
Hoje foi um dia especial. Sim, é verdade que tenho dito que
todos os dias são especiais. São como as pessoas, todas são especiais. Só que
há uns dias que nos tocam mais que outros, e todos de forma especial, como as
pessoas. Hoje foi um desses dias.
Reunião da escola. 14h00. Sala de convívio da Escola Santa
Maria do Olival –antiga Escola Santa Maria do Olival – agora é Escola Nuno de
Santa Maria. Primeira curiosidade, nesta época de profunda transformação social
e pessoal até os agrupamentos de escolas da cidade de Tomar se juntaram, Feminino
e Masculino finalmente unidos sob a mesma jurisdição, que se pretende que seja
mais eficiente, tal como ocorre quando Feminino e Masculino se reúnem dentro de
cada um de nós. O outro agrupamento é Santa Iria e Jácome Ratton – mais uma vez
Feminino e Masculino. Enfim, uma mera curiosidade que despertou a minha
atenção.
Naquele salão de convívio onde partilhei tantas
brincadeiras, conversas, tristezas e alegrias, namoros e desamoros,
cumplicidades e dualidades, estudo e recreio, encontros e desencontros… onde
vivi 6 anos da minha vida escolar, hoje levei a minha filha, que escolheu
ingressar este ano nesta mesma escola por opção própria. Olhando ao meu redor
muitos eram os rostos conhecidos. Rostos de antigos colegas de escola, amigos
de convívio e companheiros de turma, meus contemporâneos, todos nós levando os
nossos filhos para o primeiro dia de escola do 3º ciclo do ensino básico. Havia
muito entusiasmo no ar, a sensação de acolhimento era tão envolvente que se
assemelhava a um aroma intenso mas suave ao mesmo tempo.
Mudei tanto nestes últimos mais de 20 anos que ainda que
sinta aquela escola como o meu liceu, não consigo rever-me com saudosismo dos
tempos vividos, os bons e os menos bons. Tudo não passa de experiências do meu
passado, que neste momento parece uma outra vida, a vida de um outro alguém,
sem sombra de qualquer apego emocional de espécie alguma. Estranhissima esta
sensação, mas ao mesmo tempo completamente leve e livre. Receio nem sequer
estar a ser capaz de exprimir este sentir com clareza suficiente. Seja como for
aqui fica o que me apraz partilhar.
Os tempos agora são outros. O lugar é o mesmo, o mesmo chão
azul, as largas vidraças, aqueles degraus para o refeitório, o degrau ao redor,
as paredes brancas… o salão é o mesmo, mas tudo mudou. Os putos assustados que
ali chegavam vindos do antigo ciclo, agora 2º ciclo, vêm confiantes,
acompanhados dos seus pais. Os grandes do secundário que se punham à margem dos
miúdos do 7º agora são seus padrinhos e madrinhas, ajudando-os no que for
preciso para se sentirem confortáveis e plenamente integrados no dia a dia
escolar. Entra-se com cartão e não se pode sair a não ser à hora do almoço com
autorização dos pais, que têm uma senha de acesso à internet que lhes permite
saber grande parte dos afazeres e movimentos dos seus filhos dentro do
perímetro escolar. Dantes entrávamos e saíamos a nosso bel prazer. Enfim,
outros tempos em que isso era simples. Novos tempos, novas necessidades, novos
costumes. Há agora meios tecnológicos, atividades criativas diversas, uma
verdadeira preocupação pelo bem estar dos alunos, proporcionando-lhes um
ambiente estável e seguro para que possam desenvolver as suas competências da
melhor forma.
Muitos dos meus antigos professores ainda por ali andam,
recebendo agora com um sorriso os nossos filhos e alguns quem sabe receberão
ainda os filhos dos nossos filhos…
Esta foi a escola onde conheci e fui colega de turma do pai
da minha filha, a mesma em que fiz parte de uma das melhores turmas de
secundário que até à data haviam passado por aquela escola. A mesma em que foi
instaurado um processo disciplinar à minha turma de 8º ano por mau
comportamento generalizado. A mesma em que escolhi o curso superior que depois
descobri não ser o que idealizara, tendo sido no entanto capaz de reconhecer a
sua utilidade, mais tarde ou mais cedo no quotidiano prático. A mesma em que fiz
grandes descobertas, tive triunfais sucessos e angustiantes fracassos… A mesma
que visitei todos os anos por um motivo ou por outro, após ter terminado o meu
12º ano.
Esta é a agora a escola onde a minha filha se vai sentar nas
mesmas salas, com alguns dos mesmos professores, algumas das mesmas
disciplinas, e onde na verdade tudo será diferente.
Gabo-lhe constantemente a sorte – a magia, digamos – porque
ano após ano consegue sempre manifestar um rol de professores brilhantes,
inovadores e entusiásticos que lhe proporcionam experiências únicas, muitas
delas completamente fora dos moldes comuns do ensino instituído, professores
que ousam fazer diferente por amor à sua profissão e aos seus alunos e que
nunca param de aprender e de se apaixonar por aquilo que fazem, apesar de todas
as contrariedades do sistema, apesar da burocracia, dos horários estranhos, das
exigências de educandos e encarregados de educação… apesar de tudo, continuam a
criar e a viver com orgulho o seu ofício letivo. Este ano não fugiu à regra e
mais uma vez a minha filha, que se chama Diva, conseguiu a proeza do costume.
Assim saiba ela aproveitar a sua sorte – magia, repito.
Hoje foi como se fechasse um capítulo, muitos aliás, do meu
passado, completamente limpo de emoções dissonantes, e em PAZ iniciasse uma
nova vida, com memórias, sim, mas sem conflito interno algum. Especial, sem
dúvida, este dia. Obrigada Diva, por me trazeres pela mão a este novo
entendimento, assim como te levei pela mão através daquela porta de entrada
para o grande átrio da tua nova escola/vida.
Saibamos pois voar, juntas e separadas... cada uma abrindo as suas próprias asas para SER.
AH, Amiga Aeelah,
ResponderEliminarQue poema à VIDA!!!
Quanta Paixão, quanta Harmonia e quanta Ternura, em cumplicicidade partilhada, desta Mãe Sublime para com a sua Diva!!!
As nossas Vidas assumem uma intensidade de Luz - tal, que extravasa os nossos Seres, Celebrando, com Gratidão, a Paz "Interior" de Espírito.
Bem Hajas
Artemis
Obrigada amada amiga do coração :) Um xi com muito Amor
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