“Beleza. A beleza reside em todos os recantos da existência, mesmo quando parece inexistente.”
“Ora aí está uma coisa que não consigo aceitar, querida Alma. Simplesmente não consigo compreender.”
“Aquilo que não consegues compreender não é necessariamente inaceitável, querido Humano.”
“Hmmmm. Outra coisa que ultrapassa o meu entendimento é porque tu, a Alma que sabe tudo, quererias experienciar as dificuldades intermináveis de um Humano inconsciente. Como poderias escolher criar um Eu que é separado de ti e esqueceres-te de quem realmente és apenas para poderes mergulhar na falta de senso da vida aqui na Terra. Não entendo mesmo! Sabias que eu me ía perder. Não fazias ideia quanto tempo seria necessário para eu me recordar. E ainda assim jogaste a cartada toda, apostaste tudo numa jornada completamente imprevisível. Como pudeste Confiar nisto?”
“Este é o propósito da experiência na Terra - o senso da dualidade, da perceção invertida. Para que eu me possa conhecer para lá da minha inteireza. Claro que não posso senão confiar. É um dado adquirido que o Humano se recordará eventualmente da sua inteireza. O nosso Amor é inevitável. Saber quando ele poderá florescer é irrelevante. O Humano e o Divino são Um sempre, mesmo quando a perceção de separação está em marcha. Há uma coisa que gostaria de revelar-te agora, meu amor. A experiência de ser Humano implica a garantia de que apenas quando a parte humana desta equação usa o seu Livre Arbítrio para tomar inteira responsabilidade pelas suas ações e escolhas, é que o Divino pode intervir. Pode ser difícil de aceitar, mas sempre esteve nas tuas mãos a capacidade de encurtar as dificuldades, a dor, o sofrimento. Ao Humano foi dada inteira liberdade para experienciar seja o que for no seio da separação. E isto foi por mim escolhido para que Tudo o que É pudesse expandir-se. Até ao momento em que o Humano escolha iniciar a reunião, a experiência é vivida em separação. E para que a reunião se inicie, a aceitação total de tudo o que foi experienciado é o único requisito essencial. A isto chama-se tomar responsabilidade e apenas o Humano o pode fazer. Eu, a Alma, sempre soube disto e sempre assumi inteira responsabilidade por tudo o que tem ocorrido, seja o que for. Para além disto, a minha responsabilidade é manter o Lar quentinho e confortável, seguro e prontamente disponível, com o fogo da Compaixão bem vivo, para que quando o Humano ouvir o meu convite de “já chega” e ele próprio proferir o chamado, eu possa ser conhecida, ouvida, sentida e vista em ti. Nunca é o suficiente até que chega. E este momento chega sempre. É inevitável.”
“Então tu estás a dizer-me que eu poderia ter escolhido encurtar o meu sofrimento se eu tivesse decidido tomar inteira responsabilidade por todas as experiências por que passei, poderia ter escolhido abrir a porta atrás da qual tens estado à espera? A porta que eu não queria abrir? Não era propriamente incapaz de o fazer mas não queria. Preciso de ruminar sobre isto durante uns tempos! Tenho dificuldade em aceitar que durante todo este tempo tem sido da minha responsabilidade permitir a aceitação, mesmo perante sofrimento extremo. Aceitar que de alguma forma era expectável que pudesse saber isto.”
“Querido Humano, compreendo que possa ser difícil de digerir, mas Eu sou Tu e Tu és Eu. Na verdade não há um Eu e um Tu. Por isso, Tu sendo Eu, mas ainda assim sem te lembrares disto, implica também que Tu tens capacidades muito para além da tua perceção limitada, do ponto de vista da separação. São-te intrínsecas, estas capacidades. Eu sou intrínseco a Ti. O brilho que vês em Mim és Tu. Não somos um e o outro. Tal como não o são nenhumas das tuas partes supostamente inaceitáveis. Todas aquelas partes que ainda não aceitaste que foram criadas por Ti, nas explorações intermináveis de Tudo o que É. Tu tens sido a parte de mim que tem sido o grão Mestre experienciador, aquele que tem proporcionado todas as possibilidades que têm ocorrido e que ainda estão por vir, por descobrir, para lá do sofrimento, da dualidade, para lá de tudo o que conhecemos até agora. O sofrimento não tem sido um pré-requisito. Tem sido apenas uma das muitas possibilidades. E ainda assim podemos continuar a experienciar sem sofrimento, pois assim o escolheste.”
“Sim, eu sei que tenho tido dificuldade em tomar consciência que Sou o brilho que tenho achado ser maior do que Eu. Sei-o desde as minhas entranhas e ainda assim tenho estado a mirar as estrelas para encontrar as respostas, enquanto Tu tens estado pacientemente à espera do chamado, sentada em quietude aqui mesmo, no fundo de Mim. Mas tem sido tão divertido buscar! Logo que eu admita que já aqui estás, não poderei jogar mais este jogo.”
E o Humano sorriu, vendo o seu reflexo no lago da Alma. Chegara a hora, o momento. Era agora. Era hora de largar aquilo a que ele se apegara em nome da identidade. Era hora de permitir que o Um sem forma pudesse ganhar o seu próprio contorno, sem que ele tivesse mais que manter a ilusão de que o seu Eu Verdadeiro estaria algures lá fora. A hora de aterrar em completa aceitação. Aquilo a que geralmente se chama de “ficar em paz consigo mesmo.”
Fora uma crença enganadora, esta que colocava o que ele buscava lá longe, difícil de alcançar, pois se assim não fosse teria que já ter-se mostrado… de uma forma ou de outra. Pensava ele. Mas tinha-se mostrado. Claro que sim. Estava por toda a parte! Era esta a beleza a que a Alma se referia. Era isto! E ele sabia-o. Lá no fundo. Ele sabia.
“Obrigada.” Disse a Alma.
Uma lágrima escorregou-lhe pelo rosto. Uma lágrima de libertação. De rendição. De alívio. O Amor inundou-o, precipitando-se de enxurrada pela gigantesca porta por onde a Unidade era inevitável. Um Humano Divino, nem mais, nem menos. A muralha da separação ruíra e não podia ser reconstruída. E ainda que o Humano carregasse os fardos da Vergonha e da Culpa, nem mesmo o perdão seria necessário, pois uma vez que a Alma tenha permissão para fundir-se com o Humano, ensopando-o com compaixão, não há nada para culpar ou perdoar. Fora apenas algo necessário para manter a separação ativa. Agora não era mais necessário.
E a dança começou, num novo salão de possibilidades até ora desconhecido: o reino do Amor. Cada passo desencadeava um novo potencial. Cada volta um novo caminho.
Cada momento infundiu-se de vida para além da ilusão e a intensidade daquilo que o Humano que era Divino por natureza se preparava agora para experienciar, desafiava os confins do que é definível, pois não há palavras que possam captar com precisão a graciosidade de permitir que o Amor colore gentilmente a forma.
E assim é, amado. Tu és O Um por quem buscavas e sempre o foste, mesmo quando parecias não ser.
Texto por T. C. Aeelah
Foto de Henry de Guzman - Pexels
Sem comentários:
Enviar um comentário