Mirando o Infinito Estrelado
Os meus pés descalços sobre a relva fresca sentem a terra calorosa que os acolhe. O ar grávido de odores floridos que inspiro, preenche deliciosamente todo o meu corpo.
É aquela altura especial entre os últimos raios de dia e o ocaso, quando o sol se deita algures abaixo do horizonte e a lua eleva a sua brilhante quietude, sentinela dos mistérios da noite.
Lentamente, o céu torna-se breu e revela as suas estrelas diamantinas, desenrolando uma tela de galáxias infinitas.
Aqui, de pé, derretendo-me numa fusão sensual com cada uma das partículas ao meu redor, acima e abaixo, o Universo inteiro alcança-me desde o meu mais profundo âmago, emergindo do fundo da minha barriga, como uma rapsódia de fogo de artifício mostrando-me a Verdade de quem Sou.
Torno-me pontos cintilantes a dançar no infinito, tal como as estrelas lá em cima e o centro incandescente da Terra abaixo, inteirando-me mais completamente que nunca da inseparabilidade do sólido e do etéreo - uma e a mesma coisa, separados apenas pela nossa perceção limitada de serem uma ou a outra coisa.
A riqueza de cada átomo em mim e ao meu redor, imersos num ocean efervescente de perfeita quietude, ajusta-me o entendimento da harmonia intrínseca do que antes parecia caótico.
A consciência de que este mesmo corpo em que habito é feito de nada mais que tudo, liberta-me num suspiro uníssono com todo o cosmos, existindo.
Alcançando-me cá dentro, mergulho no centro do que sei ser eu e pego nas estrelas que pareciam estar lá fora e conforme as seguro nas minhas mãos, elas sorriem de contentamento com o meu toque, sabendo que podem finalmente mostrar-me a sua fonte de preciosa eternidade, onde nada tem necessidade de permanecer além de um instante. O agora cristalino, nascendo e dissolvendo-se numa onda quântica de fonte criativa. Livre de todos os antes e depois, de tudo. Livre para ser e estar aqui e em qualquer lugar.
Nenhum pensamento aflora, conforme o entendimento se torna um com esta imensidão de saber que se liberta da necessidade de ser alcançado.
Deixo-me cair gentilmente no chão, em entrega absoluta como a pena que detém o seu voo para se fundir com a erva, o céu, a terra, o universo, enquanto a noite me segura no seu manto de alívio de todos os afazer de prévias explorações.
Sorrio perante a minha própria libertação. A prisão da fisicalidade era, afinal, uma ilusão. O Humano torna-se um ponto abençoado de Presença, na vastidão agora ilimitada de infinitas possibilidades. Abraço a completude de que me apercebo ser, lágrimas cintilantes de gratidão brilhando sob o luar.
Os meus braços são tão vastos que podem abarcar todo este magnífico planeta a que tenho chamado de lar por tempos imemoriais. Todo e cada ser humano, cada ser senciente, cada organismo e cada coisa inanimada tem espaço amplo para descansar no meu coração, pois o amor não conhece quaisquer fronteiras - é tudo. Sou eu. És tu. É cada partícula e todos os espaços entre si. Na Terra e para além dela. Tudo.
Neste preciso momento, a totalidade do Universo é uma sincronicidade coesa a brincar ao som da melodia do Amor, a escoar-me do coração como se tivessem aberto as comportas de uma barragem imensa, para todo o sempre.
Amor. A fonte indelével que existe serena no âmago de tudo o que É. Não para ser procurado. Compreendido. Alcançado lá fora. Apenas para ser permitido. Aqui. Agora. Em entrega. Fusão. Realização.
Texto por T. C. Aeelah
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