Equanimidade
Imagina uma borboleta com as suas asas majestosas a esvoaçar graciosamente na leveza da brisa.
Tão delicada. E no entanto, Mestre do vento. A sua força reside na sua entrega frágil ao que simplesmente é: uma borboleta em toda a sua glória.
Vulnerável perante os elementos, celebrando cada flor onde gentilmente pousa. O seu corpo sustenta ambas as suas asas como uma só. Como uma respiração completa a desenrolar-se em sincronicidade perfeita.
Quando dá por si transformada após a sua pausa alquímica dentro do casulo que criou como berço para a sua evolução, não pergunta “como é que voo?”… simplesmente sabe. Não teme voltar a ser uma lagarta, tal como não temeu render-se à inevitabilidade desconhecida do que tinha que permitir-se ser. No seu momento do agora, não há nada mais para ser senão uma gloriosa borboleta.
Também não há nela medo de largar o casulo. A sua única força motriz é o convite apaixonado da vida “Vem brincar comigo. Eu sou tua e tu és minha, dancemos juntas, meu amor.”
Sim, ela também enfrenta desafios todos os dias mas não precisa de estar equipada com uma forma de combater contra nada. Ela recebe cada momento como ele se apresenta. Completamente absorta na experiência de ser apenas uma borboleta, tocando uma melodia silenciosa com as suas preciosas asas.
Recebeu, afinal de contas, esta dádiva de primorosa beleza que lhe permite deslizar pelos ares, livre como um anjo de delicadeza. Que mais poderia haver senão explorar esta dádiva, brincando com cada descoberta como se fosse a mais plena alegria?
Se conseguires ver uma asa como a Luz e a outra como a Sombra, vês que pertencem ambas ao mesmo corpo e nem uma nem outra é mais relevante para a liberdade do voo da borboleta?
Se negasse uma das suas asas, seria incapaz de usar esta grandiosa dádiva que recebeu no casulo metamórfico da sua transfiguração.
O seu corpo é o ponto de equilíbrio que reúne ambas as asas, sem pender para nenhum dos lados, num todo harmonioso que é muito mais do que a soma das suas partes.
Na nossa senda através da vastidão das nossas experiências, é difícil largar a identidade de sermos lagarta, mas assim que a transfiguração se inicia, não há forma de detê-la.
Quando finalmente a permitimos, há um casulo para vagar, em confiança plena deste novo momento do agora, pois não haveria propósito algum em ficar num casulo cujas paredes se quebraram para dar espaço à grandeza das nossas asas.
Ainda assim é fácil esquecermo-nos que já não somos lagartas, mesmo depois de já nos termos tornado borboletas. A ilusão é o próprio esquecimento. O apego a algo que já não está lá e ao qual não se pode retornar.
E claro, as expetativas de como seríamos após a nossa metamorfose dentro do casulo de transfiguração do apenas Humano para o Humano Divino. Ah mas não havia forma alguma de sabermos. A nossa imaginação não teria conseguido vislumbrar uma criatura rastejante a transformar-se numa que voa, fundindo a Sombra e a Luz num novo equilíbrio perfeito.
Quando descobres que tens asas, permite que elas te levem nas brisas da completude, pois não há nada mais para fazer, nenhum outro lugar onde estar. Apenas aqui. Apenas agora. Em completa rendição à preciosa unidade de cada Respiração divinamente humana.
Texto por T. C. Aeelah
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