Dia 11 - 23 de Agosto
Plenitude ilimitada
O parque, que parecia super sossegado – não era ao pé de
estradas e autoestradas, nem tinha muita gente – afinal tinha aviões a passar o
tempo todo. Nem tudo é o que parece, mais uma vez a lição repete-se. Mesmo
assim dormimos tranquilos e adorámos a envolvência das árvores e da enorme
lagoa de Veneza.
Vamos apanhar o ferry ás 8h da manhã, para podermos
aproveitar bem o nosso tempo. O carro fica a descansar no camping porque o cais
do ferry fica a uns escassos 500 metros daqui.
É encantadora a aproximação à romântica cidade cuja riqueza
histórica se perde no tempo. Já tinha vindo aqui, mas de comboio por isso desta
vez é como se fosse a primeira. Muda-se a perspetiva, muda tudo.
Uma das peculiaridades de Veneza é que não há veículos terrestres, nem
sequer não motorizados. Nada. Toda a gente se move a pé, incluindo os carros do
lixo que são puxados pelas pessoas que param em cada loja e prédio para
recolhê-lo.
E nós queremos ver o máximo possível por isso há que
caminhar muito e não devagar demais.
Como chegámos cedo ainda não há muitos turistas, mas há
muitas pessoas a caminho do trabalho. É como outra cidade qualquer em que as
pessoas vão com pressa para cumprirem os seus afazeres laborais e temos o
privilégio de ver que apesar do romantismo deste lugar, o dia-a-dia dos locais
é semelhante ao dos outros por onde temos passado. Vive aqui imensa gente!
Ainda bem que não há veículos.
Apreciamos as ruas, as pontes e canais, as praças e
pracetas, os monumentos e galerias de arte e em nenhum lugar encontramos um
jardim. Uma senhora passeia os seus 3 cães que se acercam do canteiro de uma
árvore para poderem sentir a terra e aí fazerem as suas necessidades e nós
aproveitamos para descansar um pouco num banco ao lado da árvore, observando a
senhora com os cães e outros episódios da vida citadina.
Eventualmente chegamos à Praça de S. Marcos com a sua
grandiosa catedral. Decido abraçar o lado artístico deste portentoso monumento
que como tantos outros mostra a capacidade criativa imensa do ser humano quando
inspirado pelo divino.
Não se paga para entrar!!!!! Quando nos damos conta disto
pomo-nos logo em fila. Ficamos espantados como é tão curta. Passados uns 5
minutos já estamos lá dentro. Uma senhora faz-me comprar por 50 cêntimos uma
espécie de pano branco para cobrir os ombros. Não estou de alças mas sim de
cavas, pelo que há que cobrir o corpo em sinal de pudor. Aceito e respeito
estes costumes, por mais absurdos que me possam parecer e sigo com a coberta
branca. No final vou guardar para servir de pano para piqueniques J
Ainda que respeite e aceite os usos e costumes de cada local
não posso deixar de referir que um Deus que se apregoa ser completamente
Amoroso e Compassivo para com os seus Filhos, não poderia encontrar mácula nuns
braços nus, ou em qualquer outra parte do corpo, diga-se, pois se tudo foi
criado à Sua imagem e semelhança, como a própria Bíblia o diz, quando muito
amará os corpos que criou e celebrará a Vida que neles corre, nus ou vestidos,
pouco importa.
Já para não falar no papel fantástico dessa criação chamada
Pudor no aprofundar da suas irmãs Vergonha e Culpa, trio através do qual se
consegue manipular o comum dos mortais a acreditar no Castigo Divino e assim a
assentir a um sem fim de atrocidades que em nome do Pudor se têm cometido, não
só no seio da religião Católica.
Bem, mas passemos adiante.
Lá dentro não se podem tirar fotos, apenas absorver o
esplendor com os olhos. E assim fazemos, honrados por estarmos aqui.
Há tanta
gente!!!!
Não admira, pois para além de não se pagar a entrada este sítio é
mesmo muito lindo.
À saída vemos que a fila dá a volta ao quarteirão e ficamos
sem saber como foi possível que ela só tivesse crescido depois de nós podermos
entrar em 5 minutos, mas pouco importa. É apenas mais uma magia do dia.
Hoje escolhi viver em Compaixão, em Aceitação plena e
entrega à minha Essência. E assim tem sido.
As Gôndolas que se passeiam pelos canais, ou que estão
simplesmente paradas a convidar os turistas a aconchegarem-se nos seus
confortáveis assentos, deliciam-nos, tal como as fachadas dos edifícios, o
mercado dentro e fora de água, o barco dos correios, o barco ambulância, o
barco das mercearias…
Veneza é um pitoresco desfile de momentos únicos que faz
jus ao romantismo que a fama lhe assiste.
Ao cabo de uns 10 km e umas 3 ou 4 horas de passeio temos
que decidir se almoçamos por aqui ou se apanhamos o barco de regresso.
O apelo de almoçar em Veneza ganha e escolhemos um snack que
vimos no caminho de chegada, numa rua mais afastada do centro, onde servem
pratos italianos, pizzas e uns mini wraps (não é assim que lhes chamam mas não
tomei nota do nome e é uma coisa que só eles fazem). Escolhemos isso e umas
beringelas cobertas com tomate e queijo e mais uma sandes. O senhor
pergunta-nos se queremos beber alguma coisa e decidimos tomar uma cola e uma
7Up. No final, quando vem a conta, reparamos que apesar dos preços da comida
serem razoáveis aqui, cada bebida custou 4€! Devíamos ter pedido a carta das
bebidas com o preço. Mas agora é tarde e estamos satisfeitos na mesma.
E ainda temos o privilégio de ouvir este senhor com a sua arte
Há barcos de meia em meia hora pelo que apanhamos o próximo e vamos vendo a enorme cidade a afastar-se, conforme passamos por várias outras ilhas, muitas delas dormitórios, como os que orlam
qualquer grande cidade. E ninguém tem carro.
Questiono-me como fazem quando querem ir para outros lugares
fora deste microcosmos. Há transportes, claro, mas por vezes isso não é o
suficiente.
Bem, estamos de volta ao camping – são umas duas da tarde.
Temos ainda tempo para tomar um bom duche e arrumar bem o nosso super veículo.
Hoje vamos até Cremezzano em San Paolo, onde o nosso amigo
Luigi Pescini nos vai receber na sua casa, mas antes ainda queremos passar por
Pádua e Sirmione.
Por Pádua acabamos por passar apenas de carro e seguimos
caminho.
Chegamos a Sirmione por volta das 18h. Está um corrupio de gente por
todo o lado! É uma estância de férias à beira de um lago giganterrimo e
lindissimo também – o Lago di Garda na região da Lombardia. Este lago é o maior
da Itália, tem uma área de 370 km2 (mais de 50 km de comprimento) e chega quase
aos 350 m de profundidade, tendo nascentes de águas termais quentes que
abastecem os spas de alguns hotéis locais. Os alpes circundam algumas das suas
margens e a paisagem é absolutamente maravilhosa, bem como o azul da sua água
cristalina. Ficamos rendidos.
Acabamos por decidir ir fazer um passeio de barco – o
segundo do dia – em volta da península de Sirmione, para podermos desfrutar
plenamente deste tesouro natural. O marinheiro indica-nos diversas
curiosidades, de entre as quais a casa de Maria Callas, factos históricos e
outros geográficos. No barco vão alemães, duas senhoras francesas e alguns
suecos, para além de nós, por isso o senhor tem oportunidade para mostrar a sua
perícia ao ter que falar em 3 línguas consecutivamente.
Hoje tem sido um dia tão pleno de beleza que estamos
transbordantes de Vida em toda a sua profusão.
Não quero deixar de celebrar o
facto de estar neste lugar magnífico sem ir ao banho! E vou. Depois da nossa
viagem de barco, quando já todos se foram embora da praia fluvial, lá vou eu,
banhar-me nesta água fresca e macia… tão macia. Que deleite!
Já o sol vai bem baixo no horizonte e temos que ir até casa
do Luigi que não fica muito longe daqui. Por isso toca a vestir e seguir
caminho.
Chegamos já de noite e somos recebidos com muito carinho. A
casa é muito bonita e confortável e hoje vamos dormir numa cama com um
excelente colchão (não é que nos outros dias também não tenha sido este o
caso).
Conversamos, rimos, partilhamos até que temos mesmo que ir
dormir pois o dia foi longo e intenso e agora nada melhor que um bom descanso
para integrar tudo o que hoje recebemos – tanto que não haveria forma de
converter tudo isto em euros ou dólares…
Ainda não te disse, mas está um calor imenso! Tem estado,
aliás, ao longo de todos estes dias, mas hoje mais ainda. Vamos ter que dormir
com a janela aberta… E há um sino da igreja que toca todos os quartos de
hora!!!! Oxalá o sono nos embale de tal maneira que o sino se dissipe no seio
dos nossos sonhos.
Aqui vou eu, mergulhar no vale encantado dos lençóis
serenos.
Até amanhã!
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