Dia 9 - 21 de Agosto
Itália a cores e ao vivo
Dormimos como uns anjinhos anafados no conforto da nossa
cama confortável. Adoro dormir na “car-van”, mas para hoje à noite já marcámos
ontem através da Booking um quarto em Florença. É numa casa particular que
aluga quartos e pareceu-nos ter bom ar. É a primeira noite que marcamos antes
de chegar ao local e como não temos regra para seguir, hoje será desta forma,
amanhã logo se verá de que forma é.
A minha escolha de hoje: vivo em total confiança e entrega à
minha Essência – vivo através da Essência. Hummm que bom sentir-me assim livre
e entregue – sem apego ao livre arbítrio do meu lado humano. É que sei por
experiência que quando estou simplesmente entregue à minha Essência, que é a mesma Essência em tudo e em todos, a vida flui naturalmente, livre de dramas e
desperdícios de energia.
A nossa primeira passagem é por Génova – cidade grande e
bonita mas por onde apenas passamos porque o caminho ainda é longo e hoje temos
uma meta definida.
A seguir La Sepia, Carrara – terra de mármores - e em
Viareggio paramos. É um lugar que me recordo de visitar quando vivi na Itália
em criança. Lembro-me de virmos aqui de férias. Como está calor e este é um
local de praia, decidimos ir ao banho ao mar, para refrescarmos.
Vou primeiro – o Pedro está a tratar daquele trabalho de
ontem que ainda não terminou. Quando chego à praia deparo-me com um cenário de
certo modo surreal. São fileiras e fileiras de cadeiras e camas de praia com
chapéus-de-sol, tudo verde e branco, tudo arrumado simetricamente, tudo
direitinho. Dou de frente com uma placa bem grande que diz que a praia não é
pública e que por isso, ou se paga para alugar chapéus e cadeiras, ou não se
pode pousar nada à beira-mar – nem a toalha, nem a mala, nem os chinelos –
nada. Pode-se ir ao banho mas só se não se trouxer nada para pousar. A mesma
placa indica que há uma praia pública cerca de um quilómetro mais à frente.
Volto para trás, perplexa, observando todo aparato com algum
humor. Entretanto apanho o Pedro no caminho e ele pergunta-me porque é que não
estou na praia. Vamos os dois, para ele poder ver com os seus próprios olhos. Como podem
ter “vendido” a praia aos hotéis que os têm concessionados e não permitir que
todos usufruam dela? É uma questão que nos transcende.
Deixamos para trás a nossa perplexidade e vamos buscar o
carro para procurar então a tal praia pública. Quando lá chegamos trata-se de
uma tira estreita, superpovoada. Um contraste interessante com as filas e filas
de cadeiras e chapéus todos da mesma cor praticamente vazios e espaçados bem à
larga.
Vamos mas é ao banho. A água é mais ou menos acastanhada e
só vamos lá para dentro porque já que viemos até aqui vamos aproveitar para
refrescar. É para um mar destes que se paga?
Realmente tudo é possível.
Passamo-nos pelo chuveiro de água doce, refrescados, de
facto, e seguimos.
A nossa próxima paragem será em Pisa.
Conseguimos encontrar um parque mais barato num quarteirão
sossegado lá para trás, não muito longe do centro.
À medida que caminhamos rumo ao complexo histórico onde se
encontra a torre de Pisa observamos que os passeios estão todos quebrados e as
estradas também, mas paga-se 3€ à hora para um lugar perto do centro. Ou seja,
a câmara recebe o dinheiro mas não faz a manutenção dos espaços.
Hoje é um dia mais ou menos sossegado. É uma 3ª feira e há
muitos lugares vagos, mas à medida que nos aproximamos da famosa torre
encontramos mais e mais turistas, ocupados com as fotos criativas onde se finge
segurar a torre ou empurrá-la – ilusão possível quando a foto é tirada à
distância e no ângulo certo.
Todo o complexo é imponente. As portas esculpidas, as
paredes de mármore com tantos pormenores que levariam um dia inteiro a
apreciar. Não entramos porque para isso é preciso comprar um bilhete que dá
acesso a todos os monumentos do complexo histórico mas entrar em todos
levar-nos-ía demasiado tempo. Por isso ficamo-nos por apreciar de fora e ainda
assim há tanto para ver.
Vamos dar uma volta grande pela cidade, absorvendo o sentir das
ruas que como ribeiros se repartem por becos, ruelas e amplas avenidas
pedestres.
Andamos, andamos e andamos todos os dias e ainda bem! Assim
vamos compensado o tempo que passamos sentados no carro em viagem. Há um
equilíbrio. Mas a tónica forte desta aventura é sem dúvida o movimento: interno
e externo. Conforme vamos conhecendo diferentes realidades vamos aprendendo
novos usos e costumes e ficando cada vez mais amplos e flexíveis, aceitando o
que nos serve e o que não nos serve como fazendo parte do todo que é esta
experiência. Gratos por podermos dar-nos ao luxo da descoberta descomprometida.
Temos que nos por a caminho rumo a Florença. Adorámos o
passeio em Pisa e estamos prontos para mais encantos, sempre. Nunca porque nos
falte algo mas apenas porque estamos disponíveis para apreciar tudo.
O caminho de Pisa a Florença, pela nacional, tem algumas
curvas e o trânsito aqui na Itália é intenso, especialmente à entrada das vilas
e cidades. As estradas não são muito boas e os condutores são muitíssimo
rebeldes. Em aceitação, seguimos, parando a meio para o nosso repasto
saudável, desta vez à beira da estrada.
Chegamos a Florença ao final da tarde e paramos o carro num
sítio que não se percebe se é pago ou não. Seja como for iremos depois procurar
outro melhor – agora só precisamos de chegar ao ponto de encontro com as
pessoas da casa. No caminho telefonámos e o sítio onde vamos encontrar-nos já
não é o inicial.
Chegamos a um prédio antigo mas muito bem conservado a uns
escassos metros do famoso e imponente Duomo. Esperamos. Esperamos. A dado
momento aparece uma rapariga que se acerca da porta do prédio onde estamos à
espera e abordamo-la, para saber se ela vem ao nosso encontro.
Estranhamente
primeiro diz que não e depois diz que sim.
Entramos no prédio atrás dela e subimos para um “meio primeiro andar”. É
que não é o primeiro, mas também não é o rés-do-chão. Ela abre a porta e
entramos num pequeno estúdio, com casa de banho e kitchenette, com paredes de
pedra e estuque e janelas pequenas que dão para a frente do prédio. É
aconchegado e está bem decorado.
Vemos um sofá cama aberto, com lençóis
engelhados vermelhos e começamos a perceber que é aqui que vamos ficar, afinal.
Perguntamos-lhe. Ela confirma. É que eles tinham-se esquecido de colocar na
booking que o quarto (o que nós alugámos) já estava alugado – esse era com casa
de banho partilhada. Então encontraram uma solução.
O mais interessante é que
este lugar é muito melhor pois tem não só casa de banho como kitchenette e está
precisamente no centro. Não podia ser mais central. E vamos pagar o mesmo por
ficar aqui como seria no outro lugar. Quarenta euros.
Ela atrapalha-se um
bocadinho com a questão do pagamento, que pedimos que seja feito online através
dos dados que inserimos na booking e por fim lá se resolve.
Hoje é dia de fazer a Sessão semanal de Respiração
Consciente. Este estúdio não tem wifi mas não faz mal porque nós trouxemos o
router móvel. A semana passada em Mataró, Espanha, esta semana em Florença,
Itália. Estou a preparar-me para o meu sonho de me tornar gradualmente uma
Nómada Digital ;)
Depois da sessão decidimos ir saborear uma pizza, das
verdadeiras. É que não há pizzas como as de Itália. Não consegui ainda perceber
porquê, mas é um facto.
Comemos um calzone delicioso e assistimos a um episódio
caricato. Após alguns minutos de estarmos sentados e a fazer o nosso pedido,
passa um senhor aos gritos, insultando o empregado que nos está a atender,
dizendo que são uns aldrabões e mais coisas que não vale a pena referir. O
jovem mantém a calma e explica-nos que o problema surgiu por causa da taxa de
serviço. É que pelos vistos aqui na Itália cobra-se taxa de serviço por pessoa
e a taxa varia de sítio para sítio, o que quer dizer que ao preço que está na
carta temos sempre que adicionar essa taxa. A verdade é que, apesar da
justificação do rapaz, mostrando que se encontra escrito no menu, está um pouco
disfarçado e nós também não vimos à primeira. O que vale é que é raro comermos
fora por isso não vamos ter muitas surpresas destas. O que nos aguça o sentido
de humor é o ridículo da situação – uma pessoa começar a gritar com um
empregado já depois de se ter ido embora e só porque passou naquele sítio outra
vez, usando ainda por cima linguagem muito pouco apropriada. É o sangue
italiano em ebulição.
O que importa é que adorámos o nosso calzone e estamos
satisfeitos com o serviço.
Vamos dar apenas uma pequena volta pois já é quase meia
noite e queremos levantar o mais tardar ás 7h amanhã de manhã para podermos ver
a cidade com menos gente. Estão cá imensos turistas.
Ah, esqueci-me de vos contar como encontrámos um parque
ideal!
Depois de falarmos com a moça que nos levou ao estúdio,
fomos procurar parque noutro sítio, pois aquele que tínhamos encontrado não
serviria para deixar o carro toda a noite, uma vez que não sabíamos como e onde
pagar. Damos umas voltas ao quarteirão e de repente faz-se luz. Há um largo com
parques pagos, mas mesmo ali ao lado há um estaleiro de obras e por isso em
volta do largo estão umas separações de cimento onde não há sinais de proibição
de estacionamento e também não há de pagamento. É o sítio ideal para deixarmos
o carro! É um lugar sem lei J
Estamos satisfeitíssimos!
E agora dormir. As molas do sofá cama estão velhas e
completamente inapropriadas para dormirmos confortáveis. Mas a solução é
simples. Fechamos o sofá e pomos o colchão no chão! Assim está perfeito.
Sonhos de pizza e arte! Até amanhã.
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