Dia 6 – 19 de Agosto
Lugares Remotos e Urbes Diversas
De manhãzinha cedo, devem ser umas 7h30, decidimos que já
descansámos o suficiente.
Dormir na “car-van” torna-se cada vez mais confortável
porque vamos descobrindo maneiras melhores de estender os colchões para
podermos esticar as pernas completamente, como colocar as toalhas que usamos
para tapar as janelas de um lado e do outro, deixando as janelas abertas o
suficiente para circular o ar, como colocar os protetores para-sol à frente e
atrás, como colocar as almofadas, enfim como dormirmos tão confortáveis como se
estivéssemos numa cama perfeita – como a da Sara e como a que temos lá em casa
;)
Levantamo-nos felizes e em tom de brincadeira pergunto ao
Pedro que ainda está a acostumar-se à ideia de que é hora de levantar o que
deseja nesse momento e ele responde “os meus calções de banho”. Encontro-os
imediatamente e pergunto: “mais alguma coisa Mestre?” ao que ele reitera “um
duche quente”. “Hum, isso se calhar é mais difícil…”.
Reconvertemos a “car-van” em ligeiro de passageiros e
verificamos que tal como prevíamos ficou cheio/a de poeira, um pouco por dentro
mas mais por fora. Quando houver oportunidade paramos num “car wash” algures
por aí.
Agora é a nossa vez. Prontos para um banho de mar cristalino
– uma das coisas especiais que tem esta zona da Costa Brava é a água
completamente transparente – aí vamos nós. Não se pode dizer que esteja muito
fria, mas quente também não está. No entanto sabe tãaaaaao bem esta água macia!
Purificante e revitalizante este banho de mar.
Esta prainha tem um chuveiro
para podermos passar-nos por água doce. E nem imaginas a coisa mais incrível!!!
Carrego no botão e sai água quente! É um chuveiro de água quente! Na praia!
Nunca tinha visto uma coisa assim. E afinal o Pedro recebe o seu desejo J Não há nada como
começar a brincar com as Escolhas Conscientes. Tudo passa a ser literalmente
possível até prova em contrário em vez de ser o inverso (impossível até prova
em contrário). É uma inversão total de perspetiva.
Adorooooooo! “Pede e
receberás.”
A minha escolha para hoje é: simplicidade, facilidade e
fluxo. E assim começa.
Não costumamos comer logo de manhã e hoje também não nos
apetece. Sentimo-nos tão nutridos com o banho de mar, com a magia do banho
quente, com o ar puro que aqui se respira, com a leveza de não termos planos
fixos, horários e obrigações que a fome é algo que não nos atormenta.
A nossa primeira paragem é em Port Lligat, onde está a Casa
Museu Salvador Dalí e o barco em que ele e Gala costumavam fazer longos
passeios pelas baías desta costa. Muitos momentos de amor forma vividos aqui,
muitos verões plácidos, em retiro de tudo e de todos.
Sente-se no ar essa
atmosfera amorosa e serena, esse quê de remoto onde parece que o resto do mundo
não existe.
Tudo isto é tão lindo que nem as estradas cheias de curvas
me conseguem atordoar. Costumo, costumava, ficar nauseada quando era conduzida
por estradas com muitas curvas – não quando era eu própria a conduzir. Desta
vez, porém, não sinto nada disso. Sinto-me enleada com as curvas, da mesma
forma que as rochas se enleiam com o mar e ao contrário do que pensava que iria
acontecer, não reclamo. Cada momento é um momento novo e o passado não me
determina.
Vamos a caminho de Cap de Creus que a Sara recomendou
vivamente. Quando chegamos ao cabo, com o seu farol lá no alto, o vento forte a
brincar com a vegetação rasteira, percebemos o porquê da sua veemência. É um
lugar, mais uma vez, remotamente encantador. Não há aqui cidades, aldeias, nada.
Nada para além do mar imenso, das escarpas íngremes e das prainhas minúsculas
de água azul transparente. Adoro este vento. Limpa-me o Corpo e a Alma.
Ficamos algum tempo a apreciar, a respirar, a absorver a
força deste lugar.
Seguimos para El Port de La Selva, lindo também e a próxima
paragem é Portbou, já em França.
Continua a falar-se catalão aqui, mas francês
também, claro.
Decidimos sair da costa e tomar o rumo de Narbonne, passando
por Perpignan sem parar.
Em Narbonne encontramos parque grátis e a entrada
para Catedral também o é. Ficamos agradavelmente surpreendidos, pois na
Catalunha espanhola os ingressos nos monumentos eram todos pagos, pelo que
vimos muitos por fora apenas. De todo modo não teríamos tido tempo para vê-los todos
por dentro! São tantos.
Na Catedral em Narbonne há um órgão imponente. Deve ser uma
relíquia quase inexistente no resto da Europa. Fico curiosa. Que som fará?
A cidade é muito bonita e decidimos que vamos tomar aqui o
pequeno almoço tardio, naquele jardim ali em cima. Iogurte líquido com a
granola natural do mercado das Caldas. Já não vamos com certeza almoçar depois
deste repasto docemente reconfortante. O lugar que escolhemos tem um lago com
patos e a sombra sabe-nos vem. Está calor. Tem estado sempre, desde que saímos
de casa em Portugal.
Depois de muito passeio por Narbonne é hora de mais uma
estirada até Montpellier. É uma cidade portentosa, com muitas histórias para
contar, decerto. Damos uma voltinha pelo centro e depois decidimos comer o
nosso jantar – são umas 17h30. Deixamos o carro num sítio onde se paga mas a
máquina está avariada. Confiamos e dirigimo-nos para o jardim.
Lugar interessante onde passamos por um grupo de jovens a
curtir um transe de música psicadélica, outros a tocar guitarra e ainda outros
a tocar djambé. Muitos jovens de diferentes etnias, estilos e preferências. Uma
cidade com muita emigração e em franca expansão, é o que vemos e sentimos.
Para o jantar comprámos um folhado de pizza a que juntamos
um pouco da nossa salada. Ficamos saciados. É tão libertador não sentir necessidade
de comer grandes refeições e podermos comer ás horas que nos apetece, só quando
sentimos alguma fome.
Ao fim de cerca de uma hora saimos de Montpellier e
decidimos tomar a auto-estrada para Avignon para podermos dormir na nossa “car-van”
numa estação de serviço boa. E é mesmo isso que encontramos. A nossa intenção
não é fazer o caminho todo pela auto-estrada, mas sim sair de manhã na próxima saída
depois desta estação de serviço onde vamos dormir e seguir pela nacional.
Por incrível que pareça este lugar é mais sossegado que o
parque de estacionamento na remota Cadaqués e sabemos que vamos dormir
tranquilos.
A mesma lição de ontem: “nem tudo é o que parece”.
Sonhos cor de mar e terra perfumada de verde e flores. Até
amanhã.
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