PAZ
Pediram-me para escrever algo sobre a Paz por ocasião do Dia
Internacional da Paz que a ONU agora instituiu para dia 21 de Setembro.
Poderia dizer muitas coisas bonitas sobre o assunto, mas
prefiro partilhar algumas considerações fundamentais, a meu ver, se o que se
quer é Paz.
Nem todos querem Paz. Este é o primeiro ponto a ter em
conta. E a Paz não pode ser imposta ou impingida a alguém que não a queira.
Afinal de contas todos têm direito às suas próprias experiências, sejam de que
tipo forem. É esse o propósito da vida na Terra e do dito Livre Arbítrio sobre
o qual não me alongo no contexto desta partilha.
Depois há os que dizem que a querem mas vivem de forma
diametralmente oposta à dita Paz que querem. Estes são a grande maioria dos que
habitam no nosso lindo planeta Terra. É principalmente a estes últimos que me
dirijo hoje. Por isso, se tu és uma daquelas pessoas que dizem que o que querem
é Paz mas que tem dificuldade em encontra-la e vivê-la, o que se segue é para
ti.
A vida na Terra está plena de distrações, manipulações e
seduções. No meio de toda esta salada de frutas- de jogos -diria, há que
discernir o que serve o propósito do que queremos e não queremos vivenciar.
Discernir e escolher.
O problema é que o discernimento requer tomar consciência, o
que por sua vez requer tomar responsabilidade e consequentemente assumir-se –
no dito bem e no dito mal – assumir-se.
Só depois de aceitar que somos o motor da nossa realidade e que
o reflexo espelhado do que acreditamos é o que constantemente se manifesta, é
que podemos realmente começar a escolher. Até lá a escolha é feita por todas as
nossas crenças, hábitos e padrões.
Ora bem, agora voltando ao assunto da Paz. O stress, a
ansiedade e a preocupação tomaram conta do mundo dito moderno. De tal forma que
se instalou o vício da adrenalina – hormona necessária à sobrevivência, não à
vivência.
Estimulantes como o drama indispensável, o consumismo de
todas as espécies, o trabalho como valor mais alto, o sexo como paliativo, a
droga e os restantes vícios como alienantes, a televisão e o cinema como
thrillers constantes, a coscuvilhice como entretenimento, toda a espécie de
jogos competitivos de poder em todas as áreas, o excesso escasso e a escassez
excessiva, o fanatismo político, religioso e desportivo… tudo formas eficazes
de afastar qualquer um da Paz que busca – são no entanto o “prato do dia” à
mesa de qualquer comum mortal.
Se o resultado que se quer é diferente, há que mudar então a
conduta, pois a mesma conduta só pode conduzir ao mesmo resultado, exacerbado
exponencialmente pela prática constante dos mesmos hábitos dissonantes – qual
bola de neve.
Tens na tua vida muitos motivos de stress? Sentes ansiedade com frequência? Preocupas-te com
facilidade? Vês ou lês as notícias todos os dias? Há pessoas que te irritam
compulsivamente? Perdes a calma nas mais diversas situações? Há conflitos
internos entre a forma como vives o teu trabalho e a tua família? Culpas-te
constantemente por isto ou aquilo? Evitas normalmente dizer o que sentes? Não
consegues encontrar tempo para cuidares de ti? Dispersas-te por centos de
ocupações? Achas que não mereces… seja o que for que achas que não mereces?
Achas que o bem-estar dos outros depende da tua ajuda permanente? Sentes-te
tenso/a com frequência? Usas maioritariamente o teu tempo a lutar por algo ou
contra algo? Há episódios frequentes de violência no teu dia-a-dia, sejam eles
físicos ou verbais, envolvendo-te diretamente ou a que assistes apenas como
espetador? Filmes ou cenas de terror despertam-te a atenção e ficas preso/a a
esses eventos com facilidade? A tua mente parece-se com um engarrafamento de
vozes constantes cujo ruído é de tal maneira incomodativo que procuras sempre
ter som de fundo (rádio, TV, MP3, MP4 etc)? As tuas escolhas diárias derivam do
medo do perigo de seja o que for? A negatividade geral permeia os teus pensamentos
e emoções? Muitos ou alguns dos teus relacionamentos são permeados pelo
conflito e desarmonia?
Se sim, sim e sim à maioria destas perguntas, ainda achas
que é com os outros que deves ocupar-te em vez de contigo mesmo/a?
Isto é, se é Paz que dizes que queres, não te parece que
tens o suficiente para resolver na tua própria vida para poderes eventualmente
viver em Paz sem teres que “casar-te” com os dramas do mundo inteiro também?
Há sim, há muitas distrações e é fácil perdermo-nos no
labirinto de todas as solicitações externas.
No entanto, sem coerência não é possível concretizar nenhum
objetivo concreto – como por exemplo o da PAZ.
Quando a tua Presença emanar Paz e quando a tua realidade
for um reflexo disso, então trarás Paz ao mundo SENDO. Não será uma Paz
imposta, não terá a ver com teres concertado nada nem ninguém, não será por
teres que salvar seja quem for, será por Seres quem ÉS, na Realidade. Tudo o
resto é ilusório.
Ser seletivo é essencial. Não será por te envolveres na
luta, por veres os dramas constantes que a televisão e outros meios de
comunicação te seduzem a ver, não será por participares de infindas verborreias
de má língua contra isto ou aquilo, que vais chegar a SER PAZ. Coerência,
repito, é fundamental.
Quando vives em Paz, quando emanas Paz, quando és Paz, aí
sim, prestas um precioso serviço à humanidade, no mundo inteiro, pois essa
vibração fica impressa no tecido da consciência global e cria um potencial novo
para todos. E prestas este serviço em total Compaixão sabendo que todos têm o
Livre Arbítrio de experienciarem o que mais lhes aprouver, ainda que a ti te
pareça inapropriado. Deixa, aliás, de te parecer inapropriado. É o que é. E tu
És o que ÉS.
Há apenas um senão. É que para chegares ao ponto de
equilíbrio que por sua vez é a raiz da Paz e te permite viver em profunda
serenidade, há que passar através do pântano, tal como a flor de lótus (mais
conhecida como nenúfar!!!). E passar pelo Pântano dói… e a sua negritude
assusta. É ao pântano interno que me refiro, claro. E para além de doer dá
trabalho, pois requer atenção constante – aquilo a que se chama de consciência –
requer-te atento/a a tudo em ti e à tua volta, ao teu mundo. E requer
responsabilidade pelas tuas criações e coragem para deitar todas as estruturas
criadas em ti abaixo e escolher/criar de novo, o que na prática quer dizer sair
completamente fora do padrão comum, largar tudo o que conheces como certo e
sabido e descobrir-te de novo para além da identidade que te representava.
É isto, a PAZ. Queres? Faz algo por isso, não ao participar
da sua antítese mas desfazendo-a de dentro para fora.
Apenas um Mestre está realmente ao serviço. Tudo o resto são
jogos.