Duas coisas costumavam incitar-me discussões consecutivas com os meus professores no liceu.
Uma era a compulsão por dissecarem obras de arte. Nunca percebi bem o objetivo de decompor um poema ou qualquer outra forma de arte literária em pedaços independentes, criando nomes para o seu formato e construções gramaticais, imaginando a lógica "matemática" da razão pela qual um escritor há muito falecido escreveu o que escreveu da forma como o fez.
Porque é que tudo tinha de ser formatado em caixas de compreensão em vez de ser apreciado de forma única por cada leitor, que poderia depois expandir a criação inicial através de novas formulações próprias?
E a outra era a necessidade constante de "referências". Nunca bastava por si só que um estudante formulasse um postulado e explicasse porquê. Para que a sua partilha fosse considerada válida ou valiosa, tinha de ser apoiada pela formulação de outra pessoa. Tinha de haver sempre alguém que tivesse dito isto ou aquilo que estivesse relacionado com o que nós, estudantes, estávamos a tentar propor. Caso contrário, não tinha qualquer valor.
E eu perguntava-me: mas e este ou aquele autor de uma teoria ou de outra? Eles não tinham ninguém para citar, para referir, porque foram eles os criadores desse postulado em primeiro lugar! Então porque é que não podemos formular a partir do zero?
Afinal, qual era o valor da inovação?
E quando me vi na universidade, a questão persistiu. E muito para além desses tempos, até aos dias de hoje.
Agora percebo porquê. Nasci definitivamente para ser pioneira e isso levou-me a nunca me sentir conformada com o facto de não me ser permitido desenvolver o meu próprio pensamento crítico e génio criativo. No entanto, foi impossível esmagá-lo, por mais que os sistemas institucionais tentassem formatar o meu raciocínio.
Ah, sim. Isso sim. Sempre gostei de aprender sobre os pioneiros em qualquer tipo de domínio. Quer se trate de filosofia ou física, ou outras ciências, ou história, ou literatura e outras formas de arte, geografia e tantos outros assuntos. Na verdade, se pensarmos bem, não é a matéria em si, mas a centelha de entusiasmo que faz com que uma criação se torne realidade - seja qual for a área de especialização. A curiosidade. O espírito inquisitivo. A persistência. A resiliência. A descoberta. O relâmpago do "aha" interior. O pensamento lateral. A procura de outra forma. O entusiasmo da criatividade. A magia da imaginação. A abertura de novas possibilidades. A ousadia. A coragem. A vulnerabilidade. A flexibilidade. A adaptabilidade. As soluções. A teimosia. A confiança na intuição. Tudo isto e muito mais incendeia-me e faz o meu coração bater mais forte.
Até mesmo em criança, estive constantemente submersa num oceano de adaptabilidade que exigia que me tornasse hábil a navegar na mudança.
Nasci num país africano de língua inglesa e mudei-me para a Itália aos 6 anos de idade. Entrei na escola primária "a frio" - sem saber nada sobre a língua e sentindo uma pressão tão grande dos meus colegas que aprender rapidamente se tornou a minha principal prioridade. E depois, em Portugal, aos 8 anos, diretamente para o 3º ano. Novamente a necessidade urgente de aprender ou ser gozada todos os dias. E assim fiquei fluente num instante - não só na língua mas também nos costumes de cada país. Ao mesmo tempo, fui obrigada a aprender francês e alemão para não ter demasiado tempo livre... E, mais uma vez, aprendi, adaptei-me, desenvolvi os meus próprios mecanismos de sobrevivência, o que me deu uma vantagem extra para pensar fora das caixas normais.
Em casa, tive de aprender a cuidar de mim própria desde cedo, pois a minha mãe, na altura solteira, passava dias e noites no trabalho ou com os seus novos amigos, adaptando-se às suas recentes circunstâncias. Não tinha espaço emocional para mais e fazia o melhor que sabia.
Parece-me que os pioneiros vêm com uma espécie de plano para terem de desenvolver certas competências desde cedo, de modo a poderem crescer mais do que os seus anos e abrir espaço para o que mais tarde terão de descobrir.
Na altura foi muito difícil, mas agora só consigo sentir gratidão por todas as experiências que me empurraram para lá da beira de cada penhasco de incerteza.
E lembro-me também do facto de ter sido filha única e de ter passado imenso tempo sozinha, mesmo quando era pequena. Sim. Claro que me sentia só. Felizmente que sim. Porque se não me tivesse sentido tão vazia e solitária, não me teria esforçado tanto por encontrar formas de contornar esta situação e, sobretudo, para mergulhar dentro de mim própria e descobrir os meus recursos interiores, o que acabou por me fazer apaixonar pela minha Essência e perceber, mais tarde ou mais cedo, que não precisava de me esforçar para encontrar mais nada, pois já tinha encontrado tudo o que poderia ter sonhado ou desejado. Entregar-me à minha Alma tornou-se o meu grande Sim e, assim, todas as crianças perdidas dentro de mim, desta e de outras vidas, puderam encontrar o Lar que sempre procuraram.
Mais tarde, tornou-se claro que teria de andar muitas vezes sozinha no caminho das novas descobertas. Mas sozinha já não significava desesperadamente solitária. Significava simplesmente que tinha de esperar. Sendo a primeira a chegar, foram frequentemente necessários muitos anos de espera para que outros se juntassem a mim. Entretanto, fui brincando e divertindo-me, por vezes senti-me frustrada, mas nunca aborrecida. Afinal, a vida é tão generosa. Não há nela falta alguma de entretenimento.
Para mim, é e tem sido, de facto, uma vida plena de inéditos. Nunca parei perante cada impossibilidade. Tantas vezes ultrapassei a barreira que se erguia diante de mim com um grande estrondo. Destruí a parede. Rebentei com o teto. E avancei para novos territórios.
O facto de não ver as coisas como a maioria das pessoas à minha volta, dá-me um ponto de vista semelhante ao de uma águia sobre vastas extensões de paisagem. Isto tem as suas vantagens e também os seus inconvenientes. Ser capaz de ver o potencial máximo de alguém e, no entanto, ter de testemunhar a sua auto-destruição, não é propriamente divertido. É como é. E em Compaixão tudo está bem em toda a criação.
Mas eu também sou Humana e conheço os caminhos do mundo demasiado intimamente. Por isso, geralmente divirto-me com os aspetos práticos da vida, mais do que com as pessoas e as suas histórias. No entanto, interajo e até trabalho com muitas pessoas e sinto-me muito honrada pela abundância que isso implica. Cada um é literalmente uma arca do tesouro ambulante e falante.
A visão expandida também me dá a oportunidade de aceder a potenciais invisíveis e explorá-los, saboreá-los, senti-los. Dá-me uma espécie de confiança inabalável de que tudo é possível, embora, claro, dentro do contexto algo limitado da fisicalidade. Mmmmm... mas não é tão limitada como parece ;)
Uma das minhas descobertas mais preciosas é, sem dúvida, a de que é possível viver sem raiva, ira, ódio e medo como pano de fundo. Sem uma sombra escura à espreita. Escondida e nunca totalmente reconhecida. Sem ruído interior. Sem a incerteza do nosso valor. Sem necessidade ou carência. Sem dúvidas.
Quer isto dizer que estou sempre feliz ou que o nirvana é um estado permanente de felicidade?
Bem, não. Não no sentido comum da fantasia ilusória de que a espiritualidade é uma panaceia para todos os males.
A felicidade é uma cenoura esquiva. É, antes, um estado permanente de realização. Um estado de contentamento. Não um eterno sorriso idiota!!!!
Temos tendência a ter esta ideia infantil de que transcender a ilusão da separação significa que não teremos mais desafios humanos e que seremos felizes para sempre.
É verdade que a felicidade é a tapeçaria subjacente do nosso mundo interior, quando nada mais reside na escuridão - por outras palavras, quando nada mais está escondido em bolsas não reconhecidas de "inaceitável". E é verdade que isso pode ser chamado de felicidade.
Mas não é verdade que permanecer no seio de uma realidade de terceira dimensão com um corpo físico numa experiência humana não tenha os seus desafios. Estes desafios simplesmente não são da mesma natureza que aqueles que derivam da raiva, da angústia, do medo, da dúvida e assim por diante.
É que o ponto de perceção muda. E isso é tudo. Ser capaz de percecionar a realidade de infinitas novas formas e permitir infinitas novas possibilidades cria um estado de facilidade e graça que flui no desconhecido de cada respiração. Porque, com toda a honestidade, nada é certo até que realmente aconteça. No entanto, a confiança na Inteligência Divina que orquestra a existência a partir da matéria-prima das nossas escolhas, a nossa permissão de tudo isto na forma Humana - a energia ao serviço da consciência em que nos estamos a permitir desenvolver - é uma certeza. Uma força a ter em conta. O terreno de onde brotam os milagres, literalmente.
Logo que a vida deixa de ser comandada pelo impulso da sobrevivência impelido pela adrenalina, ela metamorfoseia-se numa descoberta. Uma descoberta permanente. E esta é a paisagem dos pioneiros. Pioneiros da consciência. Pioneiros de todas as coisas humanas e divinas.
Caminhar diariamente no limiar de novas fronteiras e rompê-las para criar ainda mais novas fronteiras não é para os fracos de coração. É intenso. Por vezes, torna-se confuso. É definitivamente um desafio. Não em termos emocionais, mas em termos de confiança inabalável. Resiliência. Compaixão. Aceitação. Flexibilidade.
Adaptabilidade. Hmmmmm mas tem uma fragrância tão doce e um sabor tão rico. É como estar constantemente a pôr os pés em paraísos inexplorados. De cortar a respiração. Inacreditável e difícil de conceber e, no entanto, tão inconfundivelmente real.
É estranho para mim que as pessoas não se apercebam de que nenhuma delas é normal - mesmo quando tentam sê-lo e depois se sentem diferentes. O que se passa é que - o normal não existe! É uma invenção da mente. Se existe alguma normalidade, é a da singularidade. Não há dois seres, nem duas coisas iguais. Na verdade, a semelhança só pode ser alcançada através da produção em massa nas fábricas e, mesmo assim, se observada microscopicamente, acredito que há diferenças em cada aparente igualdade.
É, no entanto, muito mais fácil procurar seguir um conjunto robótico de normalidade do que aventurar-se mais profundamente em si mesmo para descobrir toda a gama de diferenças que está na base da constituição de cada um como Ser Humano. Felizmente... ou melhor, parece-me que sim - os animais, as plantas, os minerais e outras formas naturais não têm de lidar com estas questões. Ufa! Que suspiro de alívio.
Mas... e há sempre um mas. Ou não. Bem, mas a natureza responde à Consciência Humana e sente-se angustiada como resultado da neurose da normalidade e de todas as outras estirpes de neurose. Por isso, é importante para o equilíbrio de todos os ecossistemas da Terra que tenhamos a coragem de nos explorarmos a nós próprios. E esta tem sido a minha jornada desde o início. Descobrir a minha anormalidade e permiti-la em toda a sua gloriosa singularidade.
Nestes últimos seis meses, tenho estado a passar por uma expansão, um alargamento sem precedentes. Talvez se tenham perguntado "Onde estão as suas newsletters mensais?", e as partilhas ao vivo e toda a abundância criativa que havia ininterruptamente. Bem, está em standby para que eu possa ter tempo para me instalar na minha nova frequência. É basicamente como viver numa casa mais pequena e construir uma mansão e tudo o que isso implica e ainda, depois, adaptar-me à sua enormidade.
Novas capacidades, possibilidades e explorações nunca antes experimentadas nesta realidade. É nisto que tenho andado a caminhar e a criar mais à medida que me instalo na nova expressão de mim através da forma física que enquanto humana tenho o privilégio de expandir.
À medida que tenho sido guiada a expandir-me mais profundamente em Compaixão relativamente às sombras mais obscuras disponíveis neste planeta, também me tenho expandido em direção a frequências mais elevadas daquilo a que geralmente chamamos de Luz, criando um recipiente muito mais amplo de fusão equilibrada entre estas forças complementares da existência. Tem sido tão exigente, tão abrangente, que não tenho tido espaço ou mesmo capacidade para fazer outra coisa senão fundir-me, por vezes gradualmente, outras vezes mais abruptamente, com estas novas frequências, absorvendo-as na minha totalidade como ser humano.
Tenho estado a adaptar-me ao mundo e o mundo tem-se estado a adaptar a mim, por assim dizer. E isso exige-me inteiramente.
Porquê? Bem, porque se trata de estar tão totalmente enraizada no plano físico que a minha permissão desta nova fusão harmoniosa de Luz e Sombra pode ir mais além do que jamais foi tentado antes para nós, aqui na Terra. Esta possibilidade não estava disponível antes deste agora.. O corpo ter-se-ia simplesmente desintegrado. Mas agora, depois do evento da Cruz dos Céus e março de 2023 e de tantos outros desdobramentos a tantos outros níveis que não precisamos de saber, tornou-se possível experimentar uma possibilidade mais grandiosa - um equilíbrio sem precedentes.
Tudo porque, embora as Trevas estejam no seu pico mais alto de sempre, aqui na Terra, a Luz também está e, portanto, as possibilidades de materializar dimensões mais elevadas aqui e agora estão para além de tudo o que foram antes.
Irei certamente partilhar mais sobre isto nos próximos meses, mas por agora não há muitas palavras para o expressar. É tão novo que sinto que precisa de mais tempo para assentar e ainda expandir-se um pouco mais na massa física da própria Terra, e então estarei pronta para partilhar esta nova forma de ser e estar e como ela se me apresentou.
E para terminar, meus queridos amigos, que tenham a ousadia de se aventurar e mergulhar em tudo o que precisa de ser descoberto e alinhado dentro de vós com coragem e determinação inabaláveis, porque isso e só isso pode assegurar que tudo o resto que alguma vez ousaram sonhar se torne possível. Lembrem-se que, assim como é vosso o sonho, é vossa a capacidade para o explorar e trazer à luz, pois cada um é o pioneiro da sua própria paisagem de sonho tornada real.
Real aqui, na Terra, quero dizer. Por que outra razão teria a tua Alma escolhido criar uma faceta Humana? Para experimentar-se a si mesma neste plano, em proporções incrementais de totalidade. É esta a razão de ser humano.
Aceder a outras dimensões, a oitavas mais altas de consciência e assim por diante, serve apenas o propósito de trazer tudo isso para esta forma de vida que és agora. Querer estar noutro lugar, seja uma dimensão, um planeta ou uma esfera de consciência (como Theos) é apenas uma tentativa de escapar a esta jornada, perpetuando assim a impossibilidade de transcendência deste reino terrestre.
Trazer tudo isso para cá é o desafio e a dádiva.
Para aqueles que sentem que esta é a sua última vida, uma coisa é sentir-se claramente que assim é, e até saber-se que se pode voltar, mas não com as limitações anteriores. Outra coisa é sentir isto mesmo, que é a última vida, mas por cansaço, frustração, desespero, desejando dolorosamente livrar-se desta provação aparentemente interminável. Querer, por assim dizer, despachar este assunto das vidas na Terra.
E mesmo depois de te teres fundido totalmente com a tua Alma, o que me aconteceu em 2013, não é de modo algum, de forma alguma o fim desta senda. É apenas o início de toda uma nova jornada onde quanto mais se permite, mais de tudo o que se é, amplo e imenso, pode colapsar em coesão dentro desta mesma realidade, nesta forma física, como ser humano. Vivendo outras dimensões no dia dia regular. É literalmente a alquimia de adaptar esta realidade, criando-lhe espaço fora do tempo linear, para que ela possa abarcar muito mais.
O Corpo de Luz e a sua ampliação, é uma consequência natural da nossa fusão contínua com o nosso Ser no plano Humano e a nossa realidade adapta-se, consequentemente, a essa frequência expandida. Esta fusão deriva da reunião de tudo o que foi a nossa experiência, nesta e em todas as outras vidas, na Luz e na Sombra.
Esta reunião é mais fácil dita que feita, com certeza, ainda que o grau de dificuldade não desconte o facto de que tudo precisa de ser integrado num todo harmonioso. Qualquer sensação desconcertante de que ainda falta algo, apenas significa que existe uma parte de si mesmo (ou partes) que reside na Sombra. Por outras palavras, esta parte ou partes permanecem desconhecidas pois têm até agora sido inaceitáveis. A aceitação é, pois, a chave para que tanto as frequências superiores como as inferiores possam ser abraçadas para lá da separação, no ponto zero - o ponto de equilíbrio onde a dualidade se encontra consigo mesma e implode.
Cada um de nós é um tesouro infinitamente abundante de descoberta para si próprio e para todo o tecido da existência. Nisto reside a necessidade suprema de honrares a tua magnífica singularidade.
Por isso, um milhão de vezes obrigada por permitires a tua, uma respiração de cada vez.