Hoje a Diva está de parabéns. Vinte e cinco anos se completam na sua jovem senda.
E apraz-me partilhar o quão grata e feliz estou por ser mãe sem ter que o ser.
Quando aos meus 12 anos decidi colar na parede do meu quarto o belíssimo poema de Khalil Gibran - do seu livro O Profeta:
“Teus filhos não são teus filhos
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de ti, mas não de ti.
E embora vivam contigo, não te pertencem.
Podes outorgar-lhes o teu amor, mas não os teus pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podes abrigar os seus corpos, mas não as suas almas;
Pois as suas almas moram na mansão do amanhã, que não podes visitar nem mesmo em sonho.
Podes esforçar-te por ser como eles, mas não procures fazê-los como tu.
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Tu és os arco do qual os teus filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arquiteto mira o alvo na senda do infinito e estica-te com toda a Sua força para que as Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que o teu encurvamento na mão do Arqueiro seja a tua alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.”
Fi-lo num grito de revolta, na certeza de não pertencer a - nem de poder ser como ninguém. Pois sabia que por mais que sentisse falta de ser amada, encontraria aquilo que me faltava por mim mesma e não poderia seguir os passos até então trilhados por outros. Tinha que ser eu própria a descobrir. Sabia-me filha da ânsia que a vida tem por si mesma.
Mais tarde, quando chegou o meu momento de ser mãe, este poema passou a ter ainda mais significado.
Nunca tive vontade de formatar os meus filhos, nem que fossem qualquer coisa que eu tivesse sonhado para eles. E nunca senti tristeza ao vê-los voar com as suas próprias asas e partir em descoberta das suas próprias criações.
Também nunca senti que os meus filhos fossem um fardo ou uma dificuldade.
Sempre os vi e amei como uma dádiva que não se prende, mas que se acompanha e admira, dando-lhes o apoio e a educação que a cada curva senti ser necessária, sem seguir bulas pré-definidas. Sempre sabendo que educar é um risco, tal como viver. E no entanto é para isso que cá estamos.
Houve muitos momentos, especialmente nos primeiros anos de maternidade, em que não fazia ideia como fazer. Muitas lágrimas chorei, perdida e insegura, a apalpar terreno sem saber se era o passo certo ou a melhor decisão.
Hoje, olho para trás e sinto-me feliz. Realizada e íntegra.
Soube pedir desculpa quando cometi erros, e soube também perdoar-me por não saber fazer melhor nesses momentos.
Soube pedir ajuda quando não podia mais com o peso das responsabilidades e aceitar que ás vezes não temos força suficiente, ás vezes caímos, somos vulneráveis - que o mito da mãe heroína não passa disso: um mito. Somos humanas. Temos dúvidas, medos, inseguranças e incertezas, mas também temos um coração enorme que nos indica o caminho se nos silenciarmos o suficiente para o ouvir e temos quem nos possa amparar, se soubermos parar…e receber.
Soube ficar quieta e calada quando as palavras não eram o necessário e quando as ações seriam redundantes ou inadequadas.
Soube felicitar-me e celebrar porque afinal… afinal correu tudo muito bem e aquela que foi a jovem mãe não tem mais com que se preocupar ou questionar. O caminho foi-se mostrando. Foi sendo caminhado. E a vida foi sendo generosa no seu embalo, porque fomos permitindo que ela nos pegasse na mão e nos ensinasse a dançar.
Hoje, olho para a frente e sinto-me perfeitamente em paz.
Olho para o agora e sei que o posso abraçar com alegre e grato abandono, porque a Diva, a que veio para me despertar, é uma belíssima mulher por dentro e por fora, segura de si, independente e madura apesar da sua tenra idade.
Afinal, fizemos todos um excelente trabalho - mãe, pai, avós, tios, primos, amigos, professores, colegas… e a própria Diva, claro, a protagonista do seu próprio desenrolar.
Hoje, celebro estes 25 anos de maternidade assim. Em amor infinito. Porque este amor que sinto, esta gratidão que transborda, não cabe nesta folha. Nem no mundo inteiro.
Uma coisa é certa e será sempre: nós não controlamos nada. Não sabemos nada. Vamos descobrindo. Vamos sabendo. E depois é bom que saibamos também ir largando… para abrir espaço para o mais que se abre em cada instante.
Cada respiração, cada momento, é um momento novo, nunca antes vivido. Que esta verdade seja acarinhada com o entusiasmo inocente que vemos nos nossos filhos. Que saibamos aprender com eles que nada é fixo. Tudo flui. Tudo muda. E ainda bem!
