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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A finitude inevitável do Agora

 Antes de leres esta pequena “história de nós”, por favor fecha os olhos, toma algumas respirações profundas e gentis e deixa-te aterrar no teu senso interior, largando por estes breves instantes a necessidade de compreender. Permite-te por favor simplesmente sentir o que aqui é partilhado. Obrigada por sentires comigo. 

A finitude inevitável do Agora

Fora uma longa viagem, esta de ser Humano. Longa. Desafiante. Por vezes excruciante. Outras vezes incrivelmente prazerosa. Deliciosa. Definitivamente. 

Myra contemplava o seu reflexo na superfície plácida do lago e as suas feições flutuavam no ondular da água. 

Se olhasse para trás, conseguia vislumbrar uma harmonia que nunca antes houvera percebido. Uma harmonia no caos do obscuro esquecimento, bem como na ordem da sabedoria. A Luz fora o sinal indicador do caminho por entre os vales e montanhas, mas a escuridão fora o propósito em si mesmo. Perder-se nela de forma tão completa que parecesse não haver nada mais para além dela. Até que houvesse. 

A separação fora de tudo. Dura. Excitante. Dolorosa. Bela. Implacável. Carinhosa. Vil. Santificada. Má. Boa. Insuportável. Incrível. Lasciva. Escassa. Magnânima. Sedutora. Desprezível. Iluminada. Maravilhosa. Deslumbrante. Receosa. Destemida. Esperançosa. Desesperada. Poderosa. Derrotada… Tudo. Todas as possibilidades. Vividas até à exaustão, como se de um jogo se tratasse. Uma e outra e mais uma vez. Com o Amor a bater por vezes à porta da consciência. Sempre esquivo. Até que se tornou certo e seguro. Até que a reunião clamou por atenção. Até que a fusão se tornou a causa e o efeito de tudo o que fora e do que viria a ser. 

Myra sabia que era maior do que podia sequer imaginar. E ainda assim, o ponto de conexão estava aqui mesmo. Neste minúsculo corpo físico, neste pequeno planeta chamado Terra. Este, no qual ela escolhera mergulhar pelo puro regozijo de expandir mais além de tudo o que era sabido e conhecido. Ela fora muitas Elas, muitos Eles e tantas outras identidades sem género. 

Parecia ter passado muitíssimo tempo. Ao longo de toda esta amálgama de experiências. Mas por outro lado, o tempo não passava de um momento fugaz em que todos os tempos se desmoronam num só Agora. Intemporal. Não confinado pelos limites do Espaço. A sua consciência era infinita. Amor infinito. Amor? Sim, bem… à falta de uma palavra melhor.

Pura consciência. 

E assim contemplava Myra, sentada à beira do lago:

“Conforme os infindáveis rios, ribeiras e riachos da minha existência convergem no Agora, um silenciar cobre tudo o que foi, com a bênção da compaixão. E a gratidão infiltra-se pelos espaços ainda vagos. Tudo se torna nada e o nada torna-se tudo.

E eu morro. Com um suspiro de alívio. O contentamento enche-me até ao âmago e transborda. Escoando para o desconhecido, até que se torna um oceano, as suas ondas banhando-me por completo. Da paz de nenhum lugar emerge a paixão de algum aqui e eu renasço num novo Agora. Em cada respiração um novo Agora. Morrendo em cada momento. Vivendo em cada respiração. Tudo num só.

Existindo na multitude das dimensões e ainda assim, completamente Presente numa só.  Unificada. A expansão e a contração não mais uma dualidade. 

Ah e descubro… Não há nada do outro lado que eu não seja já, aqui deste. E torna-se simples. Tão simples. Simplesmente Ser, Permitir, Render-me e Fluir pelos territórios do desconhecido. Desde o início dos Tempos. Até ao infinito e de volta à finitude inevitável do Agora.”

Grata. 




Texto por T. C. Aeelah

Photo by Mikhail Nilov - Pexels

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