O imenso nada tinha-se decidido. Haveria mais.
Ela fazia parte do mais que viera adiante ao encontro de saber-se.
No início foi estranho. Estranho saber-se tudo e ainda assim ser apenas uma parte. Ah mas era tão belo. Uma história de amor tão maravilhosa, esta de vir a saber a infinitude do mais.
Até mesmo esquecer, ela tinha aceite. Fingir-se perdida. E descobrir-se através da sua perdição. De volta a saber-se.
O jogo de perder-se houver produzido um outro: Buscar. E lá foi ela, ultrapassando as fronteiras da perceção em busca. Inicialmente, estava ciente de estar a buscar-se para lá do seu estado perdido, explorando as intermináveis alamedas da impossibilidade. Mas a dado momento, até isso ela esqueceu. E buscar tornou-se um jogo em si mesmo.
E que divertido era! Buscar e nunca encontrar o âmago do que se buscava, mas encontrando tanto por entre os desvios da busca. Tornou-se a sua demanda. A demanda do Buscar, e apenas isso.
Erguiam-se cordilheiras incríveis diante de si e assim que chegava a um pico, logo outro se assomava diante de si, essencial de alcançar. Ela adorava.
Ainda assim, acabou por tornar-se extenuante e eis que começou a lamentar-se. O seu lamento tornou-se um ingrediente adicional a todo o divertimento da busca.
Buscou e buscou. Por eons de tempo, para lá do espaço do saber existente.
E o todo do nada expandiu-se e cresceu e a história de amor foi-se tornando as multiplicidades da experiência, incessantemente, rolando como uma onda de volta à infinitude da sua Fonte.
Tinha que haver um momento, um moment único no interminável buscar que o cessasse, com certeza. Ela tinha esta noção. Lá no fundo de si. Mas adiar este momento era mais aliciante que alcançá-lo, pelo divertimento do mais que a impelia adiante.
Quando enfim chegara o seu tempo de aceitar que nada havia a buscar, ela suspirou. Apesar da diversão do buscar, não houvera até agora beatitude maior do que deixar ir o que fora para poder regozijar-se no seu ficar.
Agora podia permitir que tudo o que ela e os zilhões de outros buscadores tinham criado, pudesse vir ao seu encontro, na rendição do seu ficar. E ficar tornou-se tão divertido quanto buscar havia sido. Ainda assim com outro gosto. Uma paz que proferia volumes de amor e que tinha o poder para abraçar todos os multiversos com que ela tinha brincado até então.
Conforme observava outras facetas de inteireza a chegar a este mesmo lugar onde a busca cessa, vislumbrou reações diversas. A maioria recusava-se a aceitar terminar a busca. Achavam-se na iminência de serem tidos como ignorantes por terem buscado tanto tempo apenas para concluir que não havia nada para buscar e que tudo o que houvera sempre estivera sempre aqui mesmo, no lugar do seu Ser. Por isso continuavam a fingir-se perdidos, mas com o ingrediente adicional de saberem que chegara o momento de se saberem encontrados.
Outros havia que se asseguravam de não verem o momento da chegada ao lugar de onde tinham partido inicialmente. Parecia demasiado aborrecida a hipótese de prescindir dessa necessidade incansável de buscar.
Fingir-se não ser inteiro, completo e eterno era um jogo ainda mais aliciante do que a busca em si mesma.
Não obstante… Não obstante ela podia sorrir um sorriso de compaixão imensa, sabendo que todos se encontrariam no ficar e se renderiam a estar e apenas nesse então poderiam dar-se conta do quão magníficos se haviam tornado como resultado de se terem fingido não sabedores.
Ficou. Sentada no seu novo espaço de descobrir-se no seu ficar e irradiou contentamento. Amando. Apenas amando ser o que ela não soubera ser e que nunca poderia alcançar na sua imensidão total, mesmo que tivesse continuado a buscar.
Apenas agora conseguia ver que a alegria da descoberta era afinal uma viagem sem fim. Como poderia ter pensado que seria aborrecido largar a busca e encontrar-se em Casa?
Como um inspirar e expirar, havia momentos de nada e momentos de tudo - com o silêncio a providenciar o chão para infinitas possibilidades.
Sabia agora que não havia outro lugar onde ir. Nada para buscar. Estava tudo simplesmente a acontecer ao mesmo tempo. Aqui. Cada momento uma inteireza em si mesma.
Dava-lhe vontade de rir, olhar para trás e ver-se a fingir ser limitada com tanto afinco que não lhe poderiam ter dito que ela era tudo o que é. E o seu riso ecoou pelas vastas planícies do esquecimento, soando um chamado de recordação para todos os seus companheiros buscadores.
Quem sabe o que este ressoar poderá gerar.
Um suspiro. Uma respiração. Uma serena batida de coração. Tudo está perfeitamente bem em toda a criação.
Texto por T. C. Aeelah
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