O Elixir Alquímico
O tempo da sua existência era imemorial e ainda que não se recordasse dos detalhes em particular de cada história vivida, tinha o saber de ser tudo.
Nenhuma destas histórias era agora relevante e ainda assim, eram todas um com ele.
Sorriu ao vislumbrar como se tornara uma reunião do que antes parecera separado.
Parecera tão difícil enquanto estivera imerso nos tornados de reconhecimento que haviam levantado a poeira há muito assente em todas as suas superfícies. Mas a partir do momento em que o que parecera preso se tornara fluido, fundindo-se assim no nada do amor mais puro, tudo se tornara preciosamente dourado.
Deu-se então conta que ele próprio era um pote alquímico, continuamente distilando a ilusão e transformando-a em abundância. E a coisa mais magnífica acerca desta magia alquímica que ele não só fazia mas era, era que tudo se tornava vazio na gravidade da impermanência, antes de se tornar novamente disponível na eternidade permanente que simplesmente É.
Tal como um monte de compostagem, o seu âmago era um ecossistema pleno de vitalidade, onde tudo o que não era mais útil, era mantido pacientemente nos braços amorosos da graça, até ficar completamente transmutado e transformado em terra fértil e sã, onde novas sementes encontrariam inevitavelmente o seu caminho rumo ao calor do seu sol interior, regadas pelas suas lágrimas de alívio e entrega. A suave briza da sua respiração beijava os delicados rebentos que brotavam da terra do seu saber e o que cada rebento seria, pertencia ao desconhecido, pois que a memória do que havia sido deixara de determinar o que viria a ser.
A morte metamorfoseava-se em vida e a vida em morte, contínua e incessantemente, e ele suspirava em beatitude e contentamento, aliviado por não ter que ser nada em particular. Ele era o nada tornando-se tudo e o todo a colapsar no nada simultaneamente, tudo no agora. Nenhum outro Espaço e Tempo era mais sagrado ou apetecível do que esta exata completude que ele permitia neste preciso momento, nesta própria respiração. Tempos houvera em que pensara que talvez fosse mais fácil noutro lugar. Tinha até desejado ser outro que não ele. Tinha desejado com tanta paixão ultrapassar a sua dolorosa incompletude com sonhos de melhor… mas tentara tanto que em algum momento ao longo desta senda, caíra por terra com o peso do seu escapismo. E finalmente desistira.
Não podia mais. O “já chega” dentro dele ressoara um chamado através de toda a vastidão das suas experiências, antigas e novas e houvera sido proclamado “É hora. Venham, retornem a Casa. Somos Um.” As multidões vinham aos magotes, tão doloroso por vezes era este retorno, que o seu corpo ansiava por consolo. Ah mas que alívio! À medida que cada charco de criação estagnada era trazida à margem da sua despedida, recebia agora um funeral digno onde a gratidão e a honra eram as chaves para a libertação definitiva.
Os funerais eram tantos que ele lhes perdera o conto… Mas sentia, e o seu sentir alimentava-o com uma gota preciosa do elixir da eternidade de cada vez que a verdadeira integração ocorria no seio do seu panelão alquímico.
Tornou-se tão exímio na arte de abraçar, receber, amar, transmutar, transcender e criar de novo, que nenhuma parte era deixada de lado e tudo colapsava continuamente no Um.
O Um e os Muitos, os Muitos e o Um. Não havia diferença. Era a magia da perceção que dava forma às facetas do diamante transparente, e as cores que refletia eram indescritíveis na sua magnificência. Sempre. Não importava o que pareciam ser individualmente.
“É tudo teu. Abraça tudo. Depois liberta e voa. Podes estar alto. Podes estar baixo. Mas não podes cessar o teu existir. Com forma. Sem forma. Tudo o que É, és Tu, Sendo.”
Enigmático? Ele respirou fundo e sorriu.
“Eu Sou o que Eu Sou.”
Texto por T. C. Aeelah
Foto de Simon Berger (Pexels)
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