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sábado, 3 de outubro de 2020

Consertar a Dualidade?

 Consertar a Dualidade?

Andamos iludidos com este enigma há milénios, sempre entretidos a tentar aperfeiçoar o “imperfeiçoável”.

Enquanto encarnados aqui na Terra somos limitados. A nossa visão é sempre limitada e o ideal criado pelas mentes de suposta perfeição é falso e impossível de atingir - por ser uma falácia da mente.

A perfeição não existe e por isso não é exequível.

A dualidade não é corrigível pois ela é simplesmente o que é.

Não há forma de saber tudo o que há para saber nem de atingir um ideal supostamente perfeito. Se quiséssemos continuar a saber tudo o que há para saber e a Ser o Todo absolutamente perfeito não teríamos encarnado. Teríamos ficado tão só e apenas no estado absoluto de Ser.

No entanto, o Humano pode usar o seu livre arbítrio para se tornar discípulo do Mestre que nasce em si mesmo, descobrindo-o, entregando-se momento a momento ao Divino e afinando-se nesta fusão contínua, sabendo sempre aceitar-se na sua condição Humana e descobrir-se no todo maior que é, sem expetativas de perfeição.

E nisto conseguirá ver todos os outros Humanos com quem convive aqui na Terra com olhos compassivos, sabendo que enquanto o Divino não é aceite, visto ou vivido, apenas a separação está disponível, com as suas malhas de dor e sofrimento, da insensatez do esquecimento, do véu da ilusão - da dualidade em toda a sua gloriosa diversidade.

Ainda que a dualidade não possa ser aperfeiçoada, a forma de vivê-la com harmonia acontece apenas com o seu reconhecimento e transcendência, vista e vivida a partir de um ponto neutro de unidade interna que mesmo assim não a torna fácil de navegar. É sempre desafiante. Mas o julgamento não é um coadjuvante nesta navegação, pois é naturalmente dual e separatista.

E a compaixão, essa apenas pode ser descoberta mais e mais a partir da nossa Divina Essência, conforme nos aceitamos e acolhemos no seu Amor infinito. O processo de reunião do Humano com o Divino é, pois,  um processo contínuo de devoção plena.

O Mestre que nasce em cada um nós como fruto da reunião contínua do Humano com o Divino, da entrega inabalável do Humano ao Divino, não precisa de ficar consternado com o estado do mundo à sua volta. O Mestre sabe que essa consternação apenas poderá alimentar a dualidade em si mesma e por isso navega no seio do uno - no espaço infinito do nada onde tudo é possível, estabelecendo a ponte que remove a ilusão da separação.

Ao ser confrontado com a dualidade, não importa o que seja, o Mestre encontra o espaço entre todas as coisas.

É fácil? Não necessariamente.

É simples? Completamente.

E viver em dualidade é fácil? Não, de todo.

É simples? Também não.

É por isso que escolho a entrega ao uno que não sei pois não pode ser sabido, mas que vou conhecendo e descobrindo momento a momento, deixando que o Mestre em mim me guie no caminho que não está trilhado nem marcado pois não há mapa que o defina fora de cada Agora.

A minha forma de apoiar a humanidade no seu processo evolutivo é criar e viver um template onde a dualidade, o drama, a dor, a separação, a luta, o esforço, o julgamento, a rejeição, não imperam. Isto, tanto quanto sinto, cria só por si novos potenciais que não podem porém ser impostos ou forçados sobre ninguém, pois isso seria a antítese do que são. Ao serem vividos, ficam disponíveis. O resto não está nas nossas mãos, pois o livre arbítrio Humano é sempre o decisor e tal como o nosso Divino está e sempre esteve aqui mesmo em nós até que o quiséssemos ver, até que disséssemos “já chega de dualidade”, assim é com todos os potenciais que a transcendem.

A minha dádiva para a Terra, é a de viver em confiança plena na minha Essência, sem ter que saber o que isso é mas descobrindo as experiência que essa confiança proporciona, tornando esta vida tão não-dual quanto possível, à medida que a vou vivendo, pois os potenciais apenas se tornam reais e tangíveis, exequíveis para todos que os queiram vivenciar, quando vividos. E até agora só posso agradecer tamanha generosidade e abundância que esta escolha de rendição e confiança plena e constante me traz.

Interajo com a dualidade, evidentemente, estou aparentemente mergulhada na 3ª Dimensão e vivo no seio dela, mas não tenho que alimentá-la ou criar a minha vida a partir dela. O meu ponto de partida é uno, interno, tanto quanto consinta a minha entrega. É uma dimensão própria. Não encaixável.

Tal como dizia Martin Luther King “Eu tenho um sonho…” e acrescento “e bordo-o, vivo-o uma respiração de cada vez.”

Este caminho que fiz e tenho feito é estranho e incomum. É o meu caminho e só eu o posso trilhar da forma que vou descobrindo conforme me entrego continuamente à minha Essência, confiando que sei o que é necessário a cada momento.

Não sou perfeita, nem pretendo ser, pois isso simplesmente não existe.

Cada um caminha o seu próprio trilho único e isso é perfeito em si mesmo :)

O meu dom é a quietude perante a sombra, para que quem queira encará-la possa ficar sereno, sabendo que o medo que ela gera é ilusório e passageiro, mas o que fica depois de ela ser integrada é puro ouro. Proporciono um espaço de silêncio onde reina a compaixão, o que aquieta a mente e permite um cair mais profundo no aqui e agora, na aceitação plena do que se rejeita, seja Luz ou Sombra.

Sei que dói encarar a Sombra. Sei que dói fisicamente, dói a todos os níveis. Sei porque fiz esse caminho em entrega total a tudo o que estivesse escondido. Sei que é uma caixa de Pandora e que cada um abre-a conforme se sente preparado para a assumir e aceitar, sendo que é essencial a compaixão para que a culpa, a mágoa, o ressentimento, a raiva, a tristeza e tudo o mais que aí se encontra, não fique pendurado a criar estagnação e repetição.

Ainda assim, a nossa Luz assusta ainda mais do que a Sombra. Assusta o Pequeno Eu Humano que se vê como não merecedor e que vive na roda viva da separação, em escassez.

Para além da dualidade e na alquimia de fusão Luz e Sombra, não há uma coisa nem outra. Há algo indefinível - algo que nasce do vazio, do fluxo contínuo de Ser.

E eis que sim, é possível viver em alquimia contínua, com a gratidão alegre de Ser-se Um de dentro para fora, permitindo que o tapete vermelho da Magia do Mestre em nós se estenda diante de cada passo que damos sem vacilar, experienciando as doces dádivas da infinita Abundância que a dança do Humano Divino proporciona.

De momento, o mundo inteiro está a ser confrontado com estas dores que levam ao eventual “já chega”. E isso é precioso, pois torna possível a consciência de que talvez haja algo para além da dualidade.

Mas o guerreiro é forte. Tem treinado ao longo de eras e eras, nas mais ferozes batalhas, e perante o medo, a indignação, a mentira, enfim, perante a necessidade de sobreviver, o fiel combatente entra em cena e promete vencer mais uma guerra por nós. Mais uma de milhares, milhões, tantas e tantas guerras já vividas e por viver… Até que um dia, estafado, se sente à beira do caminho e ouça o sussurro da Alma que o convida a largar a espada, a aliviar-se da armadura e a olhar para o Amor que o chama de retorno a Casa, deixando-se diluir nas cinzas da Personalidade em que fixamente acreditava e renascer na transparência da reunião com o Todo que realmente É.




 

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