Estou ainda por terras do ancestral Egipto, absorvendo a sapiência das eras da humanidade que por aqui têm passado, graciosa e serenamente vivendo cada dia com muita gratidão.
Por entre respirações, vou dando uma vista de olhos às redes sociais e gostaria de partilhar aqui algumas reflexões.
1. O Medo não protege
Tenho assistido ao escalar da histeria de massas em torno de um Vírus que ainda que minúsculo em dimensão, tão minúsculo que não pode ver-se à vista desarmada, conseguiu um feito maravilhoso: fazer o mundo inteiro parar, respirar fundo, olhar à sua volta e eventualmente repensar as suas práticas, hábitos, crenças, rever o Amor nas suas vidas e também o Medo.
É sem dúvida mais fácil acreditar que o Medo protege, pois faz parte do Sistema Límbico, o mecanismo básico de sobrevivência que dita que quando algo nos assusta devemos precaver-nos.
Por outro lado, o Medo assumiu na sociedade atual, em todo o mundo, sem destacar nenhuma cultura em particular, proporções bíblicas, isto é, tornou-se o Rei, o Deus da maioria das decisões na vida da maioria das pessoas que em grande parte não se confrontam hoje com um dinossauro à sua frente, do qual têm que fugir e proteger-se, mas com monstros invisíveis, sejam eles vírus, situações do dia-a-dia relacionadas com as finanças, com os relacionamentos, enfim com um universo invisível de supostos perigos que ameaçam a sanidade mental, emocional, física e espiritual de todos.
Mas o Medo contínuo adoece, só por si, sem a ajuda de qualquer vírus. Adoece por excesso de cortisol, adrenalina e derivados na corrente sanguínea, adoece por falta de consciência de quem realmente somos e do que somos capazes, adoece por hipnose.
2. O Amor é sempre a solução
Vejamos agora o Amor. Não me refiro ao amor das canções de sofrimento que se ouvem todos os dias na rádio, mas ao Amor que não se define - aquele que se sabe e sente no mais profundo Silêncio interno, no aquecer terno do coração que tranquilo sussurra “confia em mim”, mas que nunca obriga, impõe ou castiga.
Sempre que nos permitimos parar, respirar fundo, sossegar e sentir o que o nosso “coração”, por outras palavras a nossa intuição, o nosso saber intrínseco, aquele que não precisa de se explicar para ser compreendido - sentir o que o nosso “coração” nos convida a tomar como passo seguinte, ficamos em Paz e estamos protegidos. O Amor nunca nos conduz para situações de perigo eminente, de fugaz e insensato risco de vida.
Infelizmente, estamos mais habituados a utilizar o Medo como bitola de segurança, pois o grosso das massas da humanidade opera em modo de vítima e uma vítima precisa de Medo para subsistir e para perpetuar o abuso.
O Amor, por outro lado, requer responsabilidade individual por confiar no que o “coração” indica, sem sombra de dúvidas, sem sermos forçados pela adrenalina, mas sim permitindo-nos o bálsamo da Paz que nos infunde sempre que nos permitimos ser coerentes com o nosso sentir sereno. Como esse sentir não se impõe, como o Medo, é preciso saber parar, saber ficar, saber permitir, saber ouvir e seguir com confiança. É preciso permitirmo-nos receber toda a Harmonia, o Equilíbrio, a Graciosidade, a Sabedoria, a Paz… e claro o Amor que temos cá dentro sem continuar sempre a procurar as respostas lá fora, a procurar a cura, a procurar a salvação num outro lugar qualquer que não aqui mesmo, agora mesmo, em nós mesmos.
É que é apenas assim, ficando, que a comunicação com o dito transcendente pode ser estabelecida, ouvida e seguida, independentemente das crenças religiosas ou espirituais que se possa ter. Esta comunicação está para além de raças, credos e lugares. É perene, intemporal e não-local.
3. A Gratidão é um bálsamo para Corpo, Mente e Alma
Se soubermos aceitar com Gratidão os tesouros contidos em cada experiência, poderemos encontrar o que há de mais valioso dentro e fora.
Neste caso específico, atual, do Corona Vírus, todos têm a oportunidade de dar mais espaço ao Amor dentro de si mesmos… ou ao Medo. É uma escolha.
Esta “pandemia” traz a todos e cada um a oportunidade de tomar responsabilidade por si mesmo, pelas suas escolhas, pelos seus hábitos, por descobrir mais em si, por valorizar o que se tomava como garantido, por olhar o outro com olhos gratos, percebendo o que se perde em cada momento inconsciente de vida automática.
A hipnose de massas dita que nunca temos o suficiente de nada. Temos agora oportunidade de perceber que não só temos mais do que o suficiente, como sempre tivemos e que o que tem realmente valor não são as coisas - são as pessoas, os momentos de partilha grata e amorosa, os olhares de afeto, os abraços de gratidão, a alegria de sermos e estarmos uns com os outros e connosco mesmos em respeito por tudo o que já somos e temos.
Existe no mundo mais do que o suficiente para todos, mas como sabemos a distribuição está distorcida.
Que neste momento em que urge parar, se possam reequilibrar os pratos da balança global para uma sociedade mais equitativa em que a calma é finalmente valorizada e o que há de único e especial em cada um é finalmente reconhecido pelos próprios e consequente por uns e outros.
Um convite a agradecer o que temos: sendo que todos são convidados a ficar em casa, sem idas ao café, ao restaurante e demais espaços públicos onde poderiam gastar o seu dinheiro, que cada um possa perceber o valor do que tem em casa e perceber que não é preciso assim tanto para se poder estar sossegado, nutrido, confortável.
Gratidão, Amor, são receitas simples para poder desfrutar destes dias com serenidade e receber tudo o que o Parar tem para oferecer.
Para quem não tem casa, nem recursos a situação é bem mais desafiante e no entanto aparece mais apoio, mais solidariedade, mais atenção, mais cuidado.
Parar, redistribuir meios, recursos, atenções, ocupações... e perceber que por detrás de todas as preocupações humanas com esta paragem forçada, a Natureza renasce, livre do frenesim das massas, livre para respirar fundo e repor um pouco do muito que lhe tem sido retirado sem qualquer gratidão, reconhecimento ou cuidado.
Parar, redistribuir meios, recursos, atenções, ocupações... e perceber que por detrás de todas as preocupações humanas com esta paragem forçada, a Natureza renasce, livre do frenesim das massas, livre para respirar fundo e repor um pouco do muito que lhe tem sido retirado sem qualquer gratidão, reconhecimento ou cuidado.
Aproveito para contar-te uma história sobre seguir o Amor.
Estou de momento com a minha querida amiga Joana no Egipto.
Viemos para a Conferência Anual Internacional Women Economic Forum que ocorreu aqui no Cairo nos dias 4 e 5 e para quem assim escolheu, também dias 6, 7, 8 e 9 com tours pelos principais locais históricos da capital.
Ambas escolhemos vir sem qualquer plano, excepto os dois dias da Conferência propriamente dita. E porquê? Simplesmente para praticar a Confiança nos nossos Corações - no Amor pleno que brota de dentro e que tem os seus próprios canais de comunicação com tudo e todos.
E assim foi.
Conferência WEF, primeiro dia logo pelas 8h, nós com a Brigitte Baysse, nossa amiga e companheira de quarto
Logo no primeiro dia da Conferência, começámos a descobrir os próximos passos. Sem entrar em grandes pormenores aqui, pois vou escrever as Crónicas do Egipto, partilhando a nossa experiência de forma mais detalhada, abriu-se a oportunidade de irmos para o deserto.
Ahhh o Silêncio do deserto. Algo que nos inspirou às duas a dizer que sim.
Tínhamos imaginado que poderíamos ir a Luxor e Aswan, e fazer um cruzeiro no Nilo também.
Mas, logo no primeiro dia também, surgiu a oportunidade de visitar Alexandria.
Ao terceiro dia percebemos que ir ao deserto, a Luxor e Aswan e também a Alexandria seria demasiado, pelo que uma doce amiga que conhecemos na Conferência consegui organizar-nos uma ida a Siwa, no lado Ocidental do deserto do Sahara, próximo da fronteira com a Líbia.
Esta ida acabou por ser por 4 dias e por trazer-nos experiências de muita quietude, observando a calma com que por ali se vive e desfrutando do sentir de um dos lugares mais remotos do Egipto.
No último dia, aquando da nossa visita ao Templo do Oráculo, eis que aparece um jovem de Alexandria que estava a passar alguns dias de férias por ali, pois quer conhecer todo o Egipto antes de viajar para outros países.
Ficámos algumas horas a conversar e ele fez questão que o contactássemos em Alexandria para nos mostrar a cidade que tanto ama, a Sereia à Beira Mar, como é conhecida esta metrópole que Alexandre O Grande quis um dia que fosse a capital do seu Império.
Nesse mesmo dia o jovem Abdo enviou-nos uma mensagem dizendo que se avizinhava uma grande tempestade e que todos foram recomendados a ficar em casa, pelo que ía tentar viajar para Alexandria nessa mesma noite.
Nós ficámos tranquilas.
O nosso condutor Khaled, que nos viria buscar no dia seguinte para nos levar para Alexandria, enviou-nos uma mensagem perguntando se se mantinha o plano. Sentimos nos nossos corações a calma que nos define o “sim”.
Ele chegou a Siwa nesse mesmo dia à noite, dizendo que veríamos como estava de manhã às 7h, hora que ele sugeriu como hora de partida.
Nessa noite choveu. Algo raríssimo em Siwa. Choveu enquanto dormíamos.
Às 6h30 quando descemos, tínhamos o pequeno almoço preparado pelo nosso amigo Salama, gerente do hotel Albabenshal, um maravilhoso edifício rústico feito de lama, sal e madeira de palmeira mesmo no centro de Siwa. Tomámos o pequeno almoço na rua, no fresco especial da manhã, em que o ar límpido após a chuva nos convida a sentir a clareza límpida de um novo amanhecer.
Nós e o Salama frente a Albabenshal
Iniciámos viagem e nada de chuva. Após algumas horas, o Khaled recebeu uma chamada de Siwa dizendo que chovia lá a potes.
Ao aproximarmo-nos de Marsa Mattruah, a cidade onde vive Khaled, começou a chover, mas não tanto que não desse para vermos o mar azul turquesa.
Marsa Mattruah
Ele voltou a perguntar-nos se queríamos mesmo ir para Alexandria, porque o tempo lá estava péssimo.
A nossa resposta continuou a ser “sim”.
Pelas 16h, quando chegámos a Alexandria, a chuva estava a parar e fomos recebidas com muito amor pela Mansoura, amiga da Cécile, que nos tinha indicado para o nosso Hotel e conseguido um preço muito especial para nós.
Nós e a Mansoura - na sua casa
Ficámos o resto do dia no conforto do Hotel, pois a viagem havia sido longa e no dia seguinte, enquanto tomávamos o pequeno almoço, eis que o sol começou a raiar.
O nosso amigo Abdo foi-nos buscar no mini-bus e levou-nos a passear até às 15h30. Foi uma experiência fantástica e com ele aprendemos como “navegar” as ruas de Alexandria.
No dia seguinte andámos por nossa conta, a divertir-nos com os usos e costumes locais, sempre acompanhadas pelo sol e pela brisa suave do mar.
No Cairo, no entanto, instalou-se a chamada Tempestade do Dragão, que destruiu casas, carros, culturas agrícolas, estradas… Um verdadeiro caos.
No entanto, tínhamos comprado bilhete para regressar para o Cairo no sábado às 19h, chegando pelas 22h. Chegámos 2 horas mais tarde, mas sem chuva, as ruas já a secar e no dia seguinte, o sol raiou para nos receber de volta à praça El Tahrir, a praça icónica das revoluções egípcias, tendo sido a última em 2011 e a partir da qual começou uma nova era aqui no Egipto, com novas oportunidades a todos os níveis.
Estação de comboios do Cairo
A Conferência WEF ocorreu nesta mesma praça no hotel Nile-Ritz Carlton.
Estamos hoje preparadas para regressar, em paz, gratidão e confiança, humildemente recetivas ao caminho que os nossos corações nos abrem em cada respiração, sem ter que saber como, mas sabendo seguramente que “sim”.
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