Tu e o Teu Corpo
Um dos motivos porque o Corpo gera tanto Medo (medo de
doença, medo de dor, medo que não funcione conforme esperado, medo que a sua
forma não seja aceite, medo…) é a ausência generalizada. Ou seja, é estar-se
permanentemente “fora” do corpo e viver a vida de fora para dentro, em vez de
se estar “dentro” do corpo, vivendo a vida de dentro para fora.
Estar “fora” do corpo tem as suas consequências, tal como,
por sua vez, viver “dentro” do corpo.
O motivo principal da ausência generalizada é o mecanismo
base de proteção contra a dor da sobrevivência. O mundo em que vivemos tem
impacto a todos os níveis – físico, emocional, mental e espiritual. Desligar a
nossa consciência de nós mesmos ajuda-nos a atenuar este impacto, ainda que
apenas ilusoriamente. A ausência é precisamente isto: inconsciência.
Por outro lado, regressar ao corpo, ou seja, à consciência,
para viver o e no mundo de dentro para fora implica SENTIR e sentir é intenso.
O sentir não é selecionável – não pode desligar-se o que é desagradável e
ligar-se apenas o que é agradável. Tudo fica intenso, quer a dor, quer o
prazer, quer o conforto, quer o desconforto… e tudo o mais que se sente.
À primeira vista pode parecer que sentir é, então, algo a
evitar. No entanto, sentir é a única forma de tomar contacto com o que se passa
em nós. E é, por sua vez, a única forma de percebermos o nosso estado de saúde,
de pararmos para ouvir o nosso corpo e entendermos o que necessita, o que
rejeita, o que lhe é aceitável e o que não é, o que nos produz equilíbrio e o
que produz desarmonia e assim sucessivamente.
Há, no entanto, mais uma consequência: estar no corpo
sentindo, leva inevitavelmente a desligar o mecanismo da adrenalina pois ela
não é necessária com a frequência compulsiva que a sociedade dita moderna veio
a requerer. A questão é que ela é viciante e sendo viciante leva-nos a gerar
comportamentos potencialmente geradores de adrenalina. Isto só é possível por
estarmos ausentes do corpo, pois se estivéssemos presentes perceberíamos o desarranjo
que este mecanismo compulsivo cria e seria extremamente desconfortável, aliás,
impossível de manter.
Assim sendo,
regressar para dentro do corpo leva-nos a ter que fazer novas escolhas
vivenciais, nomeadamente no que diz respeito à forma como experienciamos os
“dramas” do mundo - o nosso ou o dos outros. Viver de dentro para fora requer
eliminar vícios dramáticos e hábitos autodestrutivos.
Não há como deixarmos de ter medo dos ritmos do nosso corpo,
sem criarmos uma parceria íntima com ele, aprendendo a ouvi-lo. Logo, aprender a
silenciar, sentir e ouvir são as
três bases para o equilíbrio.
O autorrespeito é uma história de AMOR e é com ela que
podemos eventualmente aprender a relacionarmo-nos com os outros a partir das
mesmas bases de respeito mútuo que as que temos para connosco próprios.
As mesmas bases de comunicação que geramos dentro, serão as
que acabaremos por gerar fora.
Tu e o Teu Corpo – a história de AMOR que dilui o medo de
viver.
Nota: sendo aquilo que se conhece quando se vive sob o vício
da adrenalina, pode parecer que não se conseguirá viver sem ela e até que não
há nada que nos faça sentir mais vivos que ela. No entanto, SENTIR é
garantidamente ainda mais intenso que a adrenalina, mas só pode saber-se disso
depois de se largar a ausência e optar pela Presença. Não há nenhuma forma de
sabermos o que se vive em consciência quando estamos em inconsciência de algo.
É como querer ver o que está do outro lado de um muro sem termos visão raio-x
;)