A Graciosa Arte do Permitir
Certo dia um ancião sentou-se à beira de um caminho à espera.
De longe a longe passava por ali gente entretida com os seus destinos, sempre a caminho de algum lugar. E o velho esperava.
No seu rosto vincado cintilavam olhos vivazes e um sorriso sereno, uma pacífica certeza de algo.
Quem reparava na sua presença detinha-se por instantes, tal era a força da sua frágil presença.
Algo em torno dele fazia o tempo parar, como se os afazeres se calassem e o murmúrio da quietude convidasse a contemplar. Até os pensamentos se desvaneciam por segundos. Preciosos segundos de algo mais.
Depois, como que por virtude de um estalar de dedos, o transeunte recordava-se do que o trouxera àquele momento e perplexo mas em paz, seguia a sua senda rumo às ocupações do seu quotidiano regular.
E o velho ali ficava. Esperava.
Um dos passantes mais frequentes decidiu ao fim de alguns dias perguntar ao velho o que ali fazia.
Esboçando um doce sorriso respondeu-lhe: “Espero por nada”.
Nunca ouvira algo tão estranho. Afinal de contas, ninguém espera por nada! Há sempre qualquer coisa que nos aguça o esperar, o ter que alcançar.
Mas não. Este velho homem com ar diáfano esperava por NADA. E ainda por cima com um sorriso.
Vendo a sua perplexidade, esclareceu o ancião: “Nada busco, nada quero alcançar, agora o caminho sou Eu e no meu esperar alcança-me tudo o que preciso. Queiras tu parar de viajar, de lutar, de ter que compreender e poderás perceber-te enfim, num sopro de Ser, diluindo-te no fluxo da própria viagem.”
O jovem não percebia. Mas sentia. Ficar ali, na Presença daquele velho sábio e tranquilo era como receber mil bênçãos de Deus e gradualmente não havia nada mais relevante do que parar e ficar, dia após dia, ali, à beira do caminho, acompanhando-o na sua espera por nada e descobrindo que também ele já era tudo o que buscara.
Texto por T. C. Aeelah
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